Menos da metade da verba anunciada para o Programa de Construção e Armazenagem (PCA) foi disponibilizada nesta safra. Com a falta de recurso, o déficit de armazenagem chega a quase 70 milhões de toneladas. Para resolver a situação, o governo anunciou, durante a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), a liberação de mais de R$ 200 milhões em linhas de crédito para o setor.
A safra nacional de grãos deve ultrapassar as 227 milhões de toneladas, de acordo com a Conab. Se por um lado a produção recorde pode gerar mais renda no campo, por outro o maior rendimento das lavouras reflete os problemas de logística e infraestrutura do país.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, a logística é um “pesadelo”.
“A logística é o nosso pesadelo, que começa dos portos, seja na importação que “tromba” com as exportações por conta da falta de logística. Temos também sérios problemas de falta de armazenagem, que nessa safra tem causado perdas muito grandes nesse país e vai continuar”, conta.
No início do plano safra 2016/2017 o governo federal anunciou a liberação de R$ 1,4 para o plano de construção e ampliação de armazenagem. Mas até agora, menos da metade do volume total de recurso previsto foi disponibilizado.
Os R$ 400 milhões disponibilizados ao PCA já foram acessados. O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão Bastos de Oliveira, disse que a entidade já solicitou novo volume de recursos ao Governo Federal, que já liberou a quantia.
“Fizemos um novo pedido ao ministério da agricultura de um aporte de R$ 200 milhões. Tentamos viabilizar ainda para essa feira. Esses recursos são para maio e junho, portanto, ainda para este Plano Safra. O nosso déficit de armazenagem aumentou e está entre 50 a 70 milhões de toneladas. Nós precisamos de armazenagem, e a feira é um lugar importante para o pessoa vir conhecer os fabricantes e fazer novos negócios em armazenagem”, aponta.
O superintendente executivo do Agro Santander, Carlos Aguiar Neto, acredita que a procura por este tipo de serviço aumente 50% este ano. Para atender toda a demanda, a agência disponibiliza linhas de crédito específicas para armazenagem.
“Nós temos as linhas de CPR. Uma vez que a safra já está colhida, nós podemos pegar os próprios grãos como garantia. Está tendo uma demanda muito grande por essas linhas dada a grande safra e o produtor optando por comercializar essa safra mais para frente para ter preços melhores”, analisa.
A Keplerweber, por exemplo, faturou R$ 560 milhões em 2016 e espera crescer até 15% este ano. O superintendente comercial, João Tadeu Vino, acredita que o desempenho vai depender da disponibilidade de crédito, já que o custo de investimento é alto e varia entre R$ 400 a R$ 500 por tonelada.
“É uma obra que dá retorno, mas não é barata. E se você não conseguir financiar a obra como um todo, ou seja, parte elétrica, civil e equipamentos, você não tem uma unidade funcional. Se faltar recurso para financiamento o pessoal se retrai um pouco neste tipo de investimento. Nos nossos cálculos quando o produtor planta acima de 250 hectares a obra garante um retorno mais rápido”, afirma.
O produtor Gilliard Scheffer possui duas unidades em Mato Grosso com capacidade para armazenar 3,5 milhões de sacas. O volume representa 60% da produção. Ele deseja construir outra unidade na região do Matopiba para estocar mais um milhão de sacas, mas tem encontrado dificuldade para financiar a obra.
“É uma burocracia enorme. Muitos documentos, problemas tanto no Mato Grosso como no Maranhão para retirar licença ambiental. É bem complicado atender todos os documentos. A região não tem armazém, nós estamos levando a 300 km a soja e isso encarece, são mais caminhões, trânsito. Estamos tentando ver aqui na feira um armazém para fomentar a região”, completa.