O estado do Pará se destaca entre os cinco maiores rebanhos bovinos do país e a pecuária paraense é a que mais tem crescido proporcionalmente em todo Brasil, conforme dados do IBGE, totalizando uma média de 20 milhões de cabeças espalhadas em uma área de cerca de 20 milhões de hectares. Os números são positivos, mas o rebanho paraense tem potencial de duplicar de tamanho em um espaço curto de tempo, sem a necessidade de derrubar uma única árvore e ainda reduzir a área utilizada para alimentar o gado, destinando-a a agricultura ou mesmo ao reflorestamento.
É o que afirma o pesquisador Moacyr Bernardino Dias Filho, da Embrapa Amazônia Oriental. Ele atenta que o Pará está muito aquém de sua capacidade produtiva e que algo em torno de 50% de todo pasto do estado está em algum grau de degradação, representando prejuízos ambientais, além de recursos financeiros que poderiam ser injetados gerando riquezas ao setor. Ele indica que a receita para reverter esse quadro é o uso de tecnologias da instalação à manutenção do pasto, o que ele chama do uso profissional ou empresarial da pecuária. “Ao conduzir sua atividade de forma responsável, empresarial, o pasto pode ser eterno, com ganhos superiores ao produtor”, garante o pesquisador.
Com experiência de 30 anos em pesquisa agropecuária na Amazônia, Moacyr defende que o setor evoluiu exponencialmente e a que a antiga premissa da chamada pecuária tradicional da região, na qual computava ciclos de alta de produtividade no pasto, seguida de baixa, degradação, abandono e a derrubada de florestas para abertura de novas áreas, já é algo superado. “Atualmente e digo isso de um ponto de vista até conservador, cerca de 50% dos pecuaristas possuem pastos de qualidade”. Já quanto a outra metade, afirma o cientista, ele vê um enorme potencial de crescimento do setor, com uso de tecnologias para recuperar o pasto degradado e manter a qualidade, com alimento farto e alto teor nutricional para os animais.
Para ajudar o setor produtivo, o pesquisador acaba de lançar a publicação Degradação de pastagens: o que é e como evitar, que está disponível gratuitamente no site da Embrapa Amazônia Oriental. Além de explicar como identificar e evitar a degradação, o livro dá dicas de como recuperar as pastagens, com descrição de custos e até de retorno financeiro no investimento nas pastagens.
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Retorno garantido – No quadro mais profissional apresentado pelo cientista, a pastagem empresarial, a cada R$ 1 investido, o produtor pode obter de retorno R$ 4. Enquanto que na pastagem tradicional, o retorno é de apenas R$ 1,30, mas somente nos anos iniciais, pois o valor que vai decaindo até virar prejuízo.
O pecuarista Ubiratan Lessa Novelino Filho, dono da fazenda Madressilva, no município de Benfica, conhece bem essa equação. Há 14 anos no mercado de engorda de bovinos, ele tem orgulho em afirmar que nunca precisou renovar o pasto, pois sempre foi fiel as orientações de manejo e busca estar em dia com as evoluções do setor.
Enquanto que a média nacional está em 1,2 boi/hectare, o empresário rural chega a manter até 3 animais, mas para isso, afirma, é necessário um conjunto de medidas, que vão desde a análise e adubação anual solo, controle do número de animais por área de pasto, de plantas daninhas e insetos-praga, além da rotação de pastagens, ou seja, o manejo preconizado pela Embrapa. “O gado tem pasto farto o ano todo e suplementação de alimentação para a engorda”, comenta.
Outra medida adotada pelo pecuarista que tem trazido benefícios produtivos, ambientais e até paisagísticos foi a inserção na área de pastagem de 8.500 pés de mognos africanos. Além de embelezar a fazenda, as árvores, hoje com 10 anos, propiciam conforto térmico aos animais, principalmente no forte verão paraense, e animal confortável engorda mais, garante.