O desmatamento das florestas nativas já era motivo de preocupação do setor de tabaco na década de 70, quando começou a incentivar produtores a reflorestar áreas ociosas, tornando-os autossustentáveis em energia utilizada na cura/secagem do tabaco. Em 2011, um acordo inédito para a preservação da Mata Atlântica foi assinado entre o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), a Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil), o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o Ministério do Meio Ambiente. Naquele ano, áreas começaram a ser monitoradas por meio de parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e o SindiTabaco.
O monitoramento utiliza tecnologia de monitoramento automatizado para acompanhar a evolução de fragmentos florestais. As áreas de estudo inicialmente compreenderam três blocos geográficos situados no interior do estado do Rio Grande do Sul, totalizando uma área de 6.899,47 km² que ocupavam o território de 29 municípios. Durante as transições estudadas em cada Bloco no período de 2011, 2012 e 2013, observou-se que houve equilíbrio entre a expansão florestal e o desmatamento. Renovado em 2013, atualmente a área monitorada totaliza 273.865,14 hectares, em dois blocos:
Bloco 1
• Estrela Velha, Salto do Jacuí, Arroio do Tigre, Tunas, Lagoão, Segredo, Passa Sete, Sobradinho, Ibarama, Agudo e Lagoa Bonita do Sul;
• Área de 137.663,50 ha;
• Relevo acidentado;
• Floresta Estacional Decidual.
Bloco 2
• Júlio de Castilhos, Nova Palma, Pinhal Grande, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Santa Maria, Silveira Martins, São João do Polêsine, Restinga Seca e Agudo;
• Área de 136.201,64 ha;
• Planalto Meridional Sul-Rio-Grandense e Depressão Central;
• Biomas Mata Atlântica e Pampa.
Liderado pelo professor Rudiney Soares Pereira, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o monitoramento por satélite de fragmentos de Mata Atlântica apresentou resultados satisfatórios. O último relatório demonstrou que a supressão de florestas e a expansão das mesmas está equilibrada no período avaliado. “Percebe-se abandono de áreas no Bloco 2 que remetem para o maior índice de expansão das florestas nativas em comparação ao Bloco 1. O Bloco 1 evidencia 41,88% de cobertura com floresta nativa e 1,49% de floresta plantada, ao passo que no Bloco 2 esses índices são de 37,49% e 0,58%, respectivamente. Quanto a dinâmica da cobertura florestal nos dois blocos entre os anos de 2013 a 2016, os resultados indicam desmatamento de 0,75% e expansão florestal de 0,59% no Bloco 1, enquanto no Bloco 2 estes índices são de 0,18% e 0,32%, respectivamente”, conclui Pereira. Portanto:
• A floresta nativa foi predominante nos Blocos 1 e 2, porém de modo mais expressiva no Bloco 1;
• O Bloco 1 apresenta maiores alterações referentes a supressão dos remanescentes florestais que o Bloco 2, porém em ambos, esse percentual é inferior a 1% da área total de cada Bloco.
• As florestas nativas no Bloco 2 apresentam em expansão, sendo superior ao desmatamento no período de 2013 – 2016.
“A conscientização dos produtores e das comunidades em geral sobre a importância da preservação da Mata Atlântica se constitui e m desafio de ordem cultural que demanda amplo esforço dos agentes envolvidos para ser superado”, avalia Iro Schünke, presidente do SindiTabaco. Nesse sentido, outros compromissos estão sendo rigorosamente cumpridos pelo setor do tabaco:
• Exigência contratual dos produtores rurais, a partir da safra 2012/2013, que a produção e a comercialização de tabaco estejam em conformidade com as normas ambientais vigentes, sob pena de rescindir os contratos vigentes;
• Não adquirir tabaco oriundo de áreas desflorestadas ilegalmente integrantes do Bioma Mata Atlântica, bem como tabaco processado em estufas mediante a utilização de lenha oriunda de mata nativa em desacordo com a legislação ambiental;
• Orientação aos produtores, pelos técnicos/instrutores agrícolas das empresas associadas ao SindiTabaco, sobre a importância da proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica;
• Distribuição de 200 mil cartilhas tratando do manejo sustentável das propriedades rurais e o respeito ao meio ambiente.
Segundo Schünke, o monitoramento segue até 2018, servindo como base para o planejamento ambiental e econômico da região. “A experiência tem sido relevante para o setor, mas vale ressaltar que toda a população se beneficia, considerando que a Mata Atlântica é um dos mais importantes biomas brasileiros. Sua preservação proporciona vantagens e condições irreparáveis para a manutenção da fauna e flora, preservação do solo e dos recursos hídricos, assim como benefícios diretos às comunidades a ela ligadas. Além disso, os resultados do programa de monitoramento por satélite poderão servir como base para o planejamento ambiental e econômico da região de abrangência”, avalia.
Saiba Mais
Com o uso da tecnologia da constelação de satélites RapidEye, imagens de alta resolução permitem a detecção, por exemplo, de um veículo em solo a partir de um satélite que está a 800 quilômetros de altitude. O sensor utilizado (REIS), com Banda Red Edge, permite discriminar a vegetação, captando alterações em áreas de até 25m², distinguindo inclusive áreas de florestas e campo nativo. Qualquer objeto com dimensões iguais ou superiores a cinco metros quadrados poderá ser identificado pelo monitoramento, ou seja, se alguém suprimir duas árvores de porte em meio a uma floresta, este espaço certamente será detectado nas imagens.
O projeto conta com uma equipe técnica formada por diversos pesquisadores e já apresenta resultados. Por meio da criação de um banco de dados georreferenciado foram feitos testes de segmentação e classificação dos conjuntos de imagens digitais, classificando-as como florestas nativas, plantadas, de agricultura, campo, solo exposto e água.