A aquisição da Monsanto pela Bayer permitirá à companhia alemã não somente acessar o mercado norte-americano, como também avançar sobre as crescentes regulações na Europa. Impulsionados pela opinião pública, reguladores do continente têm dificultado a aprovação de pesticidas e outros produtos químicos, além de culturas geneticamente modificadas.
“O maior desafio na União Europeia (UE) é a regulação”, disse o chefe da divisão de ciência da Bayer, Liam Condon, em uma entrevista recente. “Demora-se cada vez mais para se trazer produtos ao mercado (europeu).”
O ambiente regulatório, associado à queda dos preços de commodities na América do Norte, tem contribuído para a onda de consolidação na indústria agroquímica. O negócio entre Bayer e Monsanto, avaliado em US$ 66 bilhões, ocorre após a Syngenta ter sido adquirida pela China National Chemical Corp. e em meio às negociações de fusão entre Dow Chemical e DuPont. “A consolidação tem sido um tema recorrente, pois novas tecnologias requerem investimento”, avaliou Condon.
Para o professor David Zaruk, da Université Saint-Louis, em Bruxelas, a fusão entre as duas gigantes permitirá o desenvolvimento rápido de novas sementes e produtos agrícolas. Ainda segundo ele, empresas menores na Europa tendem a se unir a maiores no momento de comercialização de novas tecnologias. O objetivo aí é evitar os altos custos com normas regulatórias, explicou.
Graeme Taylor, do departamento de Relações Públicas da Associação Europeia de Proteção a Culturas, afirmou que o processo para aprovação de pesticidas e herbicidas na Europa foi “sequestrado pela política”, em detrimento dos avanços na ciência. Como exemplo, citou o glifosato, um herbicida que ainda está em análise para uso no continente.
Ativistas e outros grupos dizem que o produto é cancerígeno, apesar de a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já afirmarem que não há uma ligação entre o glifosato e a doença.
Produzido pela Monsanto, o herbicida contribuiu para as críticas de ambientalistas ao negócio da Bayer. No continente, a empresa alemã, conhecida pelos seus produtos farmacêuticos, tem uma reputação melhor que a da Monsanto perante o público.