As vendas de silos devem crescer no próximo ano, porém abaixo do aumento da produção brasileira de grãos projetado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esta é a avaliação do vice-presidente e diretor de Relações com Investidores da fabricante de silos e sistemas de armazenagem Kepler Weber, Olivier Colas.
Diante desta perspectiva, a empresa pretende dedicar mais atenção a outras áreas que vêm apresentando bons resultados, como as exportações e a movimentação de granéis.”Como acredito que o mercado de armazenagem no Brasil ainda vai ficar aquém do seu potencial no ano que vem, vamos colocar um esforço maior na exportação. Podemos trabalhar com a perspectiva de um aumento mais que tímido nas exportações da empresa em 2017″, disse Colas em entrevista.
Segundo o executivo, a Kepler Weber opera hoje com 50% de ociosidade em relação à sua capacidade total de produção de silos. Isso porque entre 2013 e 2014 a demanda por equipamentos para armazenagem duplicou, contou Colas, puxada essencialmente pelo Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) do governo federal. Para suprir tal demanda, a Kepler dobrou sua capacidade em relação a 2012. Mas, a partir de 2014, o volume destinado pelo governo ao PCA foi reduzido em mais da metade e os juros subiram. Com isso, a demanda recuou. “Hoje temos capacidade instalada para atender o mercado brasileiro, mesmo que as vendas dupliquem”, afirmou Colas.
Esta opção, contudo, é descartada pelo executivo. Para ele, a capacidade de armazenagem do agronegócio brasileiro até aumentará para evitar maiores perdas de produção, porém em proporção menor à do avanço da produção agrícola brasileira – ele não fez projeções. De forma geral, acrescentou Colas, o que tem se visto são vendas de silos crescendo aproximadamente um terço do aumento da produção de grãos. Três condições poderiam destravar o mercado de armazenagem no Brasil, apontou ele: uma taxa de juros mais atrativa, maior volume de recursos destinado pelo governo federal ao PCA e ambiente de crédito mais receptivo a quem busca crédito.
“O que pode ocorrer com mais rapidez no ano que vem é mudar o ambiente de crédito, porque há hoje mais confiança na economia e o dinheiro começa a fluir (dos bancos para produtores e empresas do setor)”, disse Colas. Com baixa probabilidade de mudanças significativas neste segmento em 2017, a Kepler pretende reforçar seus esforços nas exportações da companhia e nas vendas do segmento de movimentação de granéis – projetos e produtos para o setor de logística.
Rendimento
Entre janeiro e setembro deste ano, a receita líquida das exportações da empresa aumentaram 41,6%, para R$ 75 milhões. No ano que vem, a empresa pretende fortalecer sua presença comercial tanto em países da América do Sul como do Leste Europeu, com estratégias distintas. “Estamos fazendo uma reflexão sobre os modelos de atuação em cada mercado. Hoje adotamos o mesmo modelo para todos os países”, ponderou o executivo.
Cogita-se a possibilidade de trabalhar com representantes ou funcionários da própria Kepler em mercados mais próximos do Brasil e, em locais mais distantes, como a Rússia, atuar por meio de distribuidores. Colas ponderou, porém, que a empresa terá de enfrentar alguns desafios, como a competição com empresas de outros países e o patamar de preços atual das commodities, mais baixo que o observado há alguns anos.
A movimentação de granéis também tende a se consolidar como alternativa de receita para empresa. O faturamento da empresa com negócios neste segmento vem aumentando progressivamente desde 2012, de aproximadamente R$ 20 milhões para mais de R$ 100 milhões em 2015. Em 2016, entretanto, a crise político-econômica no Brasil interrompeu este ciclo e deixou em aberto a definição sobre diversos projetos logísticos no País.
Entre janeiro e setembro de 2016, a receita líquida do segmento caiu 73%, para R$ 23 milhões, ante R$ 85,2 milhões em igual período de 2015. “Nós vínhamos construindo um mercado com a ideia de ter uma fábrica (destinada a produtos do segmento) logo em seguida. Mas isso não vingou. Este ano o faturamento deve chegar a uns R$ 30 milhões”, avaliou Colas. Já o cenário para 2017 é mais otimista. Considerando somente os projetos já licitados pelo governo e dos quais a empresa vem participando, é possível esperar aumento de faturamento no ano que vem em comparação a este. “O que já existe referente a licitações feitas nos dá grande volume de negócios”, explicou o executivo.
Colas comentou ainda que a Kepler participa de mais de 30 projetos logísticos de movimentação de granéis, voltados ao escoamento de grãos e também de fertilizantes, assim como para a área de mineração. Por ora, a atual capacidade da companhia é suficiente para atender à potencial demanda do ano que vem. Para ultrapassar o faturamento de 2015, será preciso retomar a proposta de aumento da capacidade. “É consenso entre os acionistas que, para vender mais (acima dos R$ 100 milhões), teria que adicionar capacidade. A questão é que se as vendas do mercado de armazenagem caírem, consumiremos caixa para garantir esses investimentos.”