Uma pesquisa desenvolvida em São Paulo encontrou uma nova utilidade para o bagaço da cana-de-açúcar, que pode ser transformado em carvão ativo e a expectativa é de que comece a ser produzido em escala industrial. O projeto é do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, conseguiu utilizar o material para filtra água e ar.
“A utilização do bagaço da cana pra fazer carvão ativo foi uma demanda que a gente recebeu de uma usina de cana pra que a gente desse uma destinação mais sustentável e de maior valor agregado pro bagaço de cana. O carvão ativo é um produto de alto valor agregado e de alta demanda no país, já que nós somos muito dependentes internacionalmente da importação do produto, então isso traz uma nova possibilidade pro setor sucroalcooleiro”, disse Mathias Strauss, pesquisador do Laboratório Nacional de Nanotecnologia, do CNPEM.
Aplicação
O carvão ativo é utilizado para a remoção das impurezas da água e em um município com 1 milhão de habitantes, por exemplo, a estimativa é que seja utilizada 1 tonelada do produto. O problema, no entanto, é que existe uma grande dependência do país na importação, que chega a 7 mil toneladas por ano.
“Todo tipo de água que esteja em nossas casas em algum momento passou por um processo de descontaminação com carvão ativo. Outro ponto, por exemplo, são indústrias alimentícias de cosméticos e de fármacos que fazem uso do carvão ativo para fazer purificação de água ou de ar em seus processos”, disse Strauss.
Carvão de cana
A transformação do bagaço de cana em carvão ativo acontece da seguinte forma: depois do processo de moagem nas usinas, o bagaço é colocado em um forno que pode chegar a 800 °C. Quando retirado, são aplicados produtos para que sejam formados nanoporos, responsáveis pelo processo de purificação e descontaminação, tornando a água própria para uso.
Para esse produto virar realidade em escala comercial, no entanto, ainda depende do interesse de algum investidor que possa bancar a produção. “A tecnologia em nível de laboratório está completamente madura, o que falta agora é a gente encontrar um parceiro, uma empresa, que esteja disposta a investir no escalonamento desse processo para que possamos produzir o carvão ativo em escala comercialmente viável”, falou o pesquisador.
Próximo passo
De acordo com a pesquisadora Suely Gonçalves, o próximo passo da pesquisa é tornar a água tratada pelo carvão própria para o consumo humano e, para que isso ocorra o quanto antes, os estudos já estão em andamento. “O carvão ativo sem a nano partícula serve apenas para a descontaminação de moléculas e, quando adicionado a nanopartícula de prata, temos essa ação bactericida do material, diminuindo a quantidade de bactérias ou patógenos que fazem mal à saúde humana”, disse.