Diante da impossibilidade de o país erradicar doenças citrícolas quarentenárias – aquelas de importância econômica potencial -, a Câmara Setorial da Citricultura do Ministério da Agricultura quer acabar com a legislação federal que obriga o citricultor a combatê-las. Pragas como cancro cítrico e o greening, as duas piores da citricultura, seriam controladas apenas com o manejo de pomares, o que já é feito pelos produtores. Deixaria de ser obrigatória a erradicação de plantas e pomares doentes.
A ideia de desregulamentar o controle público dessas pragas foi apresentada por representantes do Ministério da Agricultura durante a reunião da Câmara Setorial, nesta quinta, dia 25, em Brasília, e surpreendeu os membros do órgão consultivo, a maioria favorável à medida. Além da fiscalização difícil do próprio setor público, o argumento para retirar a legislação de combate a essas doenças sustenta que elas chegaram a um estágio nos pomares que torna impossível a erradicação.
Um exemplo é o cancro cítrico, que tinha uma incidência de 0,1% e 0,2% nos pomares comerciais até 2009 e agora tem 10%. O crescimento ocorreu por conta do abrandamento na legislação por pressão dos próprios produtores e da redução na obrigatoriedade de erradicação de pomares. “A partir desse porcentual de incidência, a melhor opção são medidas de manejo dessas doenças e de convivência com elas”, disse ao Broadcast Agro, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, Antonio Juliano Ayres, gerente geral do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
Ele citou como exemplo de manejo um experimento feito pelo Fundecitrus em pomares do Paraná com cancro cítrico. A área cujo controle adotado para mitigar a doença foi feito registrou uma produção três vezes maior do que em pomares sem o manejo, bem como índices desprezíveis de danos na fruta causados pela bactéria causadora do cancro.
O programa de manejo do cancro consiste na aplicação de cobre a cada 21 dias nas plantas com brotação, a utilização de barreiras naturais como quebra-vento para impedir o avanço da doença e ainda o uso de inseticidas para controlar vetores de outras doenças, os quais têm efeito de indutor de resistência nas plantas com cancro.
Para o Fundecitrus, o programa de manejo seria ainda seguido de um de mitigação de riscos com o intuito de evitar que a doença, presente nos pomares do Sul e Sudeste do Brasil, avance para regiões produtoras do Nordeste, como Bahia e Sergipe, além de países onde a fruta in natura é a principal fonte comercial da cultura, como a Espanha. Para a produção de suco no Brasil, destino 80% da fruta, não há problemas se uma fruta tem cancro ou greening. “Seria um programa que quem toma a decisão é o citricultor, que é o maior interessado em produzir sua fruta de acordo com a exigência do mercado comprador”, explicou Ayres.
Já o presidente do Fundecitrus e indicado para presidir a Câmara Setorial da Citricultura, Lourival Carmo Monaco, afirmou que a desregulamentação pública para essas doenças quarentenárias de citros precisa ainda ser acompanhada de um amplo programa para informar o produtor dos deveres e ainda treiná-lo para evitar o avanço ainda maior das pragas.
Monaco afirmou que outra discussão da Câmara Setorial será a criação, junto ao governo, de um programa para financiar a erradicação total de pomares abandonados no parque citrícola comercial. Segundo a Pesquisa de Estimativa de Safra (PES), esses pomares ocupam uma área de quase 10 mil hectares entre São Paulo e Minas Gerais, ou cerca de 2% de toda a área cultivada com citros.
“Essas árvores são focos de greening e outras doenças e precisamos trabalhar para fomentar a erradicação delas e incentivar o plantio de outras culturas para a produção de alimentos, como grãos”, afirmou. Uma ideia é criar, no Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017, uma linha de crédito ao produtor para financiar essa troca de culturas.