A coordenadora do Programa de Erradicação da Febre Aftosa da Secretaria da Agricultura gaúcha, Grazziane Rigon, explica porque a proposta do Paraná enfrenta resistência no Rio Grande do Sul e como o Estado está tocando a discussão do tema.
A mudança no status ainda enfrenta alguma resistência no Rio Grande do Sul?
Enfrenta, pois para parte da população a vacina cria uma falsa impressão de que não há risco da ocorrência da doença. Isso faz com que outros fatores de risco não sejam observados como se deveria, como aquisição de animais ou produtos de forma regular ou a falta de notificação de suspeitas de ocorrências que acionariam as ações emergenciais de contenção. Na verdade, a vacinação não evita a entrada do agente, mas reduz a velocidade da dispersão da doença, facilitando o seu controle.
Audiência pública no Paraná discute pedido de área livre de aftosa sem vacinação
Os últimos focos da doença no estado ocorreram em 2001. Com a busca do Paraná pelo status de livre sem vacinação, a retirada da imunização no RS é vista como natural?
Sim, até porque a evolução de status faz parte do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa e do Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa.
Considerando que Santa Catarina é livre da doença sem vacinação, o Rio Grande do Sul teria que deixar de imunizar o rebanho para não ficar isolado na região Sul?
Na verdade não ficaria isolado, pois ainda seria possível o trânsito com outros estados de mesma condição sanitária que a nossa, que é zona livre com vacinação. Entretanto, perderia a possibilidade de comercializar animais para Estados sem vacinação.
Quais os pontos críticos a serem avaliados para uma possível retirada da vacina no RS?
Consciência dos produtores em relação a cuidados com a prevenção e a importância da rápida notificação. Rigor na fiscalização de fronteiras e divisas e agilidade na capacidade de resposta imediata à emergência sanitária.
Criadores de angus criticam pedido do Paraná para suspensão da vacinação contra aftosa
O avanço sanitário ajudaria a qualificação da produção de carnes?
Sim, pois possibilitaria a valorização do produto e a abertura de novos mercados mais exigentes, hoje com restrições em função da condição sanitária para bovinocultura e a suinocultura, principalmente.
Já há discussões no governo do Estado a respeito da retirada da vacinação?
Existe um grupo formado por fiscais federais e estaduais na Fundação Estadual de Sanidade Animal, além de representantes da cadeia da carne, do leite e da suinocultura. O principal objetivo é a evolução da condição sanitária do Estado como um todo, independente ou não da existência da vacina, visando o fortalecimento da defesa agropecuária. Se os objetivos forem alcançados, a retirada da vacina será um caminho natural.
A retirada evitaria a entrada do vírus no estado?
Não há relação com a entrada ou não do vírus no estado.
A Associação de Brasileira de Angus é uma das que rejeita o pedido do Paraná. A preocupação é que, devido à área de fronteira com o Paraguai, a falta de vacinação acabe favorecendo o reaparecimento da doença nos rebanhos. O governo paranaense vai realizar audiências públicas com as cadeias da pecuária até setembro. A decisão sabe ao governo federal.