O preço do milho deve encerrar o ano em patamares elevados. Mesmo com um volume menor de exportações, o estoque do produto segue apertado. Para analistas, até que se confirme o tamanho da segunda safra, a tendência é de pouca oferta e valorização na cotação do grão.
Neste ano, o Brasil registrou grande escassez de milho, com um dos menores estoques do cereal em anos. Segundo Raquel Magossi Rodrigues, pesquisadora da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV), diante desta realidade dificilmente as cotações recuarão muito. “Os estoques de passagem no Brasil estão nos níveis mais baixos da história. Saímos de 13 milhões de toneladas em 2014, para quatro milhões de toneladas neste ano”, ressalta a pesquisadora. “O recuo das cotações vai ser limitado por esses baixos estoques.”
Segundo o analista de mercado José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro, os preços pagos ao produtor devem se manter até pelo menos a entrada da próxima safra, que certamente será maior que a atual, que teve impacto do clima adverso. “Isso deve gerar um ajuste e os preços começarão a cair, ainda em um patamar acima da paridade de exportação, provavelmente”, afirma Hausknecht.
A expectativa da pesquisadora da FGV é de uma safra de milho dentro da normalidade, já que a soja foi cultivada dentro da janela ideal. “Isso faz com que o milho ‘safrinha’ também consiga ser plantado dentro da janela ideal e se o clima for favorável, pode ser que tenhamos uma boa produtividade”, garante Raquel Rodrigues.
Apesar do otimismo, ela não crê em uma recuperação instantânea dos estoques, logo após a colheita da nova safra. “Acredito que vamos precisar de no mínimo dois anos com safras cheias para elevar os estoques a um patamar mais confortável”, frisa.
Com a quebra de quase 20 milhões de toneladas na safra de milho 2015/2016, as exportações também devem fechar o ano com retração, o que reforça a expectativa de preços firmes. No balanço anual de exportações do milho, boa parte dos especialistas aponta que o país deve embarcar 15 milhões de toneladas a menos, na comparação com o ano passado. “Se analisarmos o tamanho da quebra de safra, é natural uma redução nas exportações. Acredito que exportamos até mais do que deveríamos”, diz o sócio da MB Agro.
Com exceção dos Estados Unidos, que estão colhendo uma supersafra de milho, países produtores importantes como o Uruguai e a Argentina também registraram estoques baixos e preços elevados como o Brasil. “Nem mesmo esta super colheita americana foi capaz de superar a quebra de safra na América do Sul. Os clientes que deixaram de comprar do Brasil, foram comprar em outros mercados e reduziram os estoques deles também”, explica José Carlos Hausknecht.