Milho: preços podem reagir com eventual problema na América do Sul, diz consultoria

Com lavouras do Hemisfério Norte em fase final, atenções se voltam para safras da Argentina e do Brasil, de acordo com a INTL FCStone

Fonte: Pixabay

O cenário de preços baixos do milho no mundo pode sofrer alteração caso a safra na América do Sul apresente problemas relevantes e haja menor disponibilidade do cereal, disse a INTL FCStone no relatório “Perspectivas para Commodities”, divulgado nesta sexta-feira, dia 6. “Com as lavouras do Hemisfério Norte já em fases finais, as atenções nos próximos três meses devem ficar centradas na safra da América do Sul, em período de plantio”, explicou no documento a analista de Mercado da INTL FCStone, Ana Luiza Lodi.

Segundo a consultoria, a estimativa é de que a área plantada na Argentina com o cereal cresça quase 6% ante a do ciclo 2016/2017, alcançando 5,4 milhões de hectares. O crescimento deve se dar apesar da ampla oferta e da pressão sobre os preços do milho no país, porque as exportações argentinas do cereal não são taxadas como as de soja, diz a FCStone. O plantio já está em pleno andamento em algumas regiões e por ora as condições climáticas são favoráveis, mesmo com as chuvas que caem em algumas áreas. 

No Brasil, a consultoria reforçou previsão de queda de cerca de 10% da área da safra verão 2017/2018, assim como de uso de áreas cultivadas com milho no ciclo passado para o plantio de soja neste. O movimento é estimulado pela ampla oferta no mercado interno e por preços em baixa. A FCStone também reafirmou previsão de produção na 1ª safra 20% menor que na 2016/2017, porque “dificilmente a produtividade do ciclo 2016/2017 será repetida neste ano”. 

A consultoria reportou que a semeadura do milho verão 2017/2018 está adiantada no Rio Grande do Sul e atrasada em outros estados, em virtude do tempo seco no Centro-Sul do país até o fim de setembro. “Estes atrasos podem incentivar uma redução ainda maior da área de verão do cereal”, diz Ana Luiza Lodi. A analista ponderou que as exportações aquecidas no segundo semestre têm impacto positivo, mas limitado nos preços, por causa da elevada disponibilidade de milho. Se as vendas externas do cereal do ciclo 2016/2017 chegarem a 30 milhões de toneladas, os estoques finais devem ser de 20 milhões de toneladas, estima a consultoria. “Por mais que o Brasil possa exportar volumes bem maiores que este, a oferta de outros exportadores, como EUA, Argentina e Ucrânia, também está elevada”, disse a FCStone.

Soja

Sobre a soja, a consultoria comentou que o balanço da oferta e demanda global se mantém confortável, deixando espaço limitado para altas expressivas de preços. Qualquer problema com a safra sul-americana nos próximos meses pode mudar a situação, já que a demanda segue aquecida e a oferta se concentra em poucos países. 

No Brasil, apesar da falta de chuvas no Centro-Sul em setembro e do atraso do plantio em algumas regiões de Mato Grosso e Paraná, não foram registradas grandes perdas, segundo a consultoria. Para outubro, a FCStone relata normalização do regime de chuvas, permitindo o progresso do cultivo nestas regiões e plantio em outros estados. A consultoria reiterou projeção de produção na safra 2017/2018 acima de 100 milhões de toneladas – no começo de setembro, a estimativa foi de 106,7 milhões de toneladas na temporada. Na Argentina, há temores de que as chuvas volumosas recentes atrasem o plantio da oleaginosa. Já há previsão de área plantada menor em comparação à da safra 2016/2017, lembra a FCStone. 

A possibilidade de ocorrência de La Niña no fim do ano também mantém produtores apreensivos, porque poderia tornar o clima mais seco no Sul do Brasil e na Argentina. Mas caso venha a se confirmar, acrescenta a consultoria, o fenômeno será de baixa intensidade.  

Trigo

Quanto ao trigo, o mercado continuará focado no fim da colheita do Brasil e início na Argentina, diz a consultoria. No Sul do Brasil, as chuvas foram limitadas em julho e agosto, prejudicando o desenvolvimento das lavouras na região. Na Argentina o cenário é inverso: grande parte das lavouras sofreu danos causados por chuvas recorrentes e excesso de umidade no solo. “A oferta argentina ainda é incerta, mas o volume projetado ainda consegue suprir a demanda interna e as exportações. O cenário de estoques bastante reduzidos no Mercosul deve ser manter até o fim de 2017/18”, disse no relatório o analista de mercado João Macedo. 

A FCStone avaliou também que a projeção de área plantada menor na safra 2017/2018 feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) são inferiores às indicadas pelo mercado. “Relatos apontam reduções mais intensas no plantio do que os 9,5% esperados pela Conab”, ponderou Macedo no documento. Na Argentina, a FCStone reforçou que a Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) reduziu sua perspectiva de produtividade, de 3,32 toneladas/hectare em agosto para 3,12 toneladas/hectare em setembro, por causa do excesso de umidade e de algumas geadas em áreas produtoras, assim como seca em certas regiões do país. A Bolsa projeta produção de 16,5 milhões de t neste ano, abaixo das 17 milhões de toneladas colhidas no ano anterior, porque, além de prejudicar o rendimento, o clima adverso também limitou a expansão de área.