O preço do milho está desagradando os produtores do interior de São Paulo. Até quem utiliza o cereal para a rotação de culturas já pensa em mudar o planejamento da lavoura na próxima temporada.
O produtor Pedro Luís Guerini produz cana-de-açúcar em 800 hectares na região de Boituva, no interior de São Paulo. Para evitar problemas com o solo e aumentar a rentabilidade das plantas, a cada ano, 20% da área passa por rotação de cultura como a soja e o milho. “Rotacionar a cana com o milho e também com a soja acaba nutrindo melhor o solo. Mas, o milho acaba deixando um resto de nutriente que a cana vai se aproveitar”, comenta o agrônomo, José Veronezi.
Neste ano, a área de 200 hectares foi cultivada com milho, que está prestes a ser colhido. Na média, o produtor espera que a lavoura renda aproximadamente 130 sacas por hectare, mesma produtividade obtida no ano passado, mas a rentabilidade disso é que preocupa. “No ano passado o milho foi negociado a R$ 50 por saca e hoje está na faixa de R$ 20. Isso complica tudo”, garante Guerini.
Com custo de produção próximo a R$ 23 por saca, a solução encontrada pelo agricultor para não perder dinheiro é pagar uma cooperativa para estocar o milho que for colhido. A esperança é que os preços melhorem no decorrer dos meses e parte do investimento seja recuperado. “Se o preço do milho não reagir existe a possibilidade de ficar aí quase até dezembro, com ele estocado, esperando que suba o preço para vender”, explica o produtor. “É bom lembrar que existe um custo de secagem, algo em torno de R$ 0,20 e R$ 0,30 por saca e isso pode ficar caro no final, dependendo da época e da quantia de meses que ele fique lá guardado.”
Por conta desta situação o produtor afirma que, na próxima safra, ele não pretende usar o milho nesta rotação para recuperação de área. “Podemos substituir por outra coisa, porque fica difícil trabalhar no vermelho. A opção é usar a soja. Quando colher no final de janeiro começo de fevereiro, colocaria o milho safrinha. Mas, se tiver muito ruim o preço, provavelmente vou substituir por trigo. Ele entra mais tarde, mas ainda dá pra fazer a rotação com a cana.
Segundo o agrônomo que atende a propriedade, a aposta no trigo não afeta a produtividade da cana-de-açúcar. Por outro lado, a troca de cultura não vai proporcionar tantos benefícios para o solo. “A soja e o milho são mais interessantes para o solo da cana. Já o trigo não requer muitos cuidados diferenciados. É algo mais simples, sem falar também que essa rotação sempre deixa um resultado financeiro melhor para o produtor”, diz Veronezi.