O rompimento e a queda de um silo em Mato Grosso no mês passado, praticamente reproduzindo um acidente ocorrido em 2014, deixou em alerta os produtores rurais do estado. Além de ter que arcar com os prejuízos provocados pela perda da estrutura e pela necessidade de realocar os grãos, os agricultores suspeitam que a causa do problema esteja relacionada à qualidade do material utilizado na fabricação dos silos.
As duas estruturas foram projetadas e erguidas pela fabricante Kepler Weber. Nos dois casos, antes de se romperem, os proprietários começaram a ouvir estalos vindos dos silos, com quebra de parafusos e enrugamento das chapas. “Não tinha nenhum sinal de corrosão, de ferrugem, nem amassados”, afirma Fernando Cimadon, um dos produtores afetados.
Seu silo tinha 13 anos de uso, com capacidade para armazenar 40 mil sacas de milho, e, no momento do acidente, continha o equivalente a 38 mil sacas. Com isso, também faltou lugar para armazenar parte da colheita, que ainda não terminou na propriedade – foi preciso desembolsar R$ 30 mil para a compra de silos-bag. O filho do agricultor, João Victor Cimadon, gravou em vídeo, com o celular, o exato momento em que a estrutura se rompeu.
Edson Zanchet passou pela mesma situação há dois anos, e também filmou a queda do silo. Seu prejuízo totalizou perto de R$ 1 milhão. O produtor tinha feito seguro do equipamento, mas a apólice cobria apenas danos causados por vendavais e colisão.
Ele afirma que, na época de seu acidente, comentou-se na região que, para conseguir preços competitivos, a fabricante fazia silos de arroz – que utilizam chapas de metal mais finas – e enviava para Mato Grosso. “É um sentimento de abandono, porque ninguém ajuda você. A Kepler não veio atrás, até tentei um advogado, mas ele não orientou muito. Estamos sempre sozinhos; temos que contar com o clima, com a sorte, e ainda arcar com esses prejuízos que temos no dia a dia”, disse Zanchet.
A reportagem do Canal Rural procurou a Kepler Weber, que se pronunciou através da nota abaixo no dia 15 de agosto:
“A Kepler Weber, que fornece silos desde o início da década de 70, estará sempre à disposição de seus clientes para qualquer esclarecimento, prezando pela qualidade técnica e veracidade de suas declarações.
No caso do colapso da estrutura de armazenagem de grãos do sr. Edson Zanchet, a empresa declara que, em dois anos, nunca foi procurada pelo cliente, impossibilitando a prestação do suporte adequado.
Também não foi procurada por Fernando Cimadom no momento do incidente. Somente em 9 de agosto de 2016, o cliente aceitou o pedido da companhia para ter acesso ao local e proceder com o laudo técnico. A conclusão da(s) possível(is) causa(s) será finalizada em breve mas, conforme análises e comprovações iniciais, a empresa declara que o equipamento foi dimensionado e construído para os produtos soja e milho, conforme especificado na proposta técnica da época de aquisição. Sem o correto dimensionamento e se o silo não tivesse sido entregue dentro das especificações, o equipamento já apresentaria significativas deformações desde o início de sua operação, há 13 anos.
A empresa informa ainda que, quanto à seleção e aquisição de sua matéria-prima, segue rígidos padrões de qualidade, utilizando-se de fornecedores reconhecidos pela qualidade, com processos auditados por órgãos certificadores internacionais.”