Desafio da indústria de soja é elevar venda de farelo excedente do biocombustível

Abiove discute caminhos para o excesso de produto gerado na fabricação de biodiesel no Brasil; desbravar mercados internacionais pode ser a saída

Fonte: Abiove/Divulgação

O aumento da mistura de biodiesel ao diesel trará um novo desafio para a indústria esmagadora de soja no Brasil: o que fazer com o farelo excedente gerado na produção do biocombustível. Conforme informou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, cada ponto porcentual na adição do combustível vegetal ao fóssil resultará numa demanda adicional de 2 milhões de toneladas de soja para processamento. “Particularmente para o setor de soja, o grande desafio é a colocação do farelo que vai aparecer no processo de produção de óleo. Vamos ter que desbravar mercados internacionais”, assinalou.

A mistura de biodiesel ao diesel vendido ao consumidor no país deve ser elevada de 7% para 8% (B7 para B8) a partir de 23 de março de 2017. “Participamos de road shows na Ásia, que é um mercado-alvo para esse tipo de objetivo. Queremos aumentar nossa participação na exportação de farelo de soja. Vamos precisar disso.” 

Lovatelli participou da conferência BiodieselBR na tarde desta quarta-feira, dia 16, em São Paulo, onde falou no painel “O Futuro do Biodiesel no Brasil – O que o novo marco do biodiesel representa para o País na próxima década”. Ele acrescentou que o mercado interno de farelo de soja brasileiro é crescente, mas tem um crescimento relativamente discreto. “Não vai absorver todos os grandes volumes que vamos ter em consequência do aumento de produção de óleo.”

O presidente da Abiove chamou a atenção para países que hoje praticamente não compram farelo do Brasil, como Coreia do Sul, Tailândia, Mianmar e Vietnã, mas adquirem de 3 milhões a 5 milhões de toneladas de soja em grão e são abastecidos por farelo argentino. “Nosso maior problema é a capacidade de planejamento e persuasão no comércio internacional”, apontou. “Não vejo por que não possamos ter uma contrapartida maior desses países.” Ele assinalou ainda o esforço, em conjunto com as áreas de promoção comercial do governo brasileiro, para tornar viável a importação pela China de 3 milhões a 10 milhões de toneladas de farelo de soja. 

Lovatelli ressaltou também que a capacidade de expansão de produção de soja permitirá o avanço da produção de biodiesel planejado para os próximos anos. “Calcula-se que nós temos áreas de pastagens degradadas e semidegradadas de 24,4 milhões de hectares. Hoje o Brasil planta soja em 33 milhões de hectares. Temos uma área livre e descompromissada quase igual à que usamos hoje”, assinalou. “Dobrar a produção de soja é absolutamente possível.”