Considerada atualmente o principal problema a ser combatido pelos sojicultores brasileiros, a ferrugem asiática já causou prejuízos que superam US$ 25 bilhões desde que chegou ao país, na safra 2001/2002. Ao longo dos últimos 15 anos, a doença – verificada inicialmente em Palmeira (PR) e em São Desidério (BA) – se alastrou por todas as regiões produtoras do Brasil, comprometendo a produtividade das lavouras e a rentabilidade do agricultor.
A ferrugem é provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, e inicialmente aparece na forma de pontuações mais escuras no tecido das folhas. “Ao produzir os esporos na planta, o fungo vai tornando a folha amarelada, daí o nome ferrugem”, explica o pesquisador Erlei Reis, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF).
No Brasil, ocorre o que os pesquisadores denominam de “fechamento do triângulo da fitopatologia”, ou seja, a existência de hospedeiro (a soja), patógeno (o fungo) e ambiente (o clima tropical), condições que, juntas, propiciam a disseminação da doença.
“É uma doença que pode ocorrer em qualquer estágio da planta e, quando relatada em nível epidêmico, pode afetar entre 10% e 90% da produção”, diz o gerente sênior de Inovação e Desenvolvimento da UPL Brasil, Rafael Pereira. Nas plantas infectadas, ocorre a desfolha precoce, o que compromete a formação e o enchimento das vagens.
A doença foi registrada há mais de século no continente asiático. O mais provável é que tenha chegado ao Brasil vinda de países vizinhos, especialmente Paraguai e Bolívia, que cultivam duas safras de soja por ano. “Nesses dois países, a ferrugem encontrou um paraíso, pois necessita da planta viva para sobreviver, e, como as sementes dos fungos são transportadas pelo vento, elas vêm facilmente para o Brasil”, avalia Reis.
Importância do vazio sanitário
O pesquisador explica que a ferrugem da soja não ocorre em sementes de soja, grama ou pasto. “Não há uma estrutura de repouso que permita ao fungo ficar latente aguardando a soja. Ele realmente precisa da planta viva para se alimentar”, diz. Por esse motivo, é essencial que os produtores de soja respeitem o vazio sanitário – período de 90 dias em que é proibido plantar soja – para evitar a existência de plantas vivas que possam servir para o aumento da população do fungo.
Apesar desses cuidados, tem sido contínuo o registro da ferrugem no Brasil, principalmente quando há atraso no plantio da soja. Desde o início da semeadura da safra atual – que começou em 15 de outubro em algumas regiões – até o começo do mês de dezembro, cinco focos da doença foram registrados no país, segundo o Consórcio Antiferrugem, parceria público-privada criada para o combate à ferrugem asiática. “Quanto mais cedo for o plantio, maior é a chance da lavoura escapar da infestação da doença”, explica o pesquisador Erlei Reis.
Cuidados redobrados
O executivo da UPL alerta aos produtores para que redobrem os cuidados neste ano. “Como o plantio está atrasado, haverá uma longa janela de semeadura e teremos diferentes fase de desenvolvimento no campo, o que amplia a oferta de plantas para os fungos”, diz Rafael Pereira.
Outra recomendação é que os produtores intensifiquem o monitoramento nas primeiras áreas semeadas, já que, com o atraso do plantio, as lavouras vão entrar na fase reprodutiva na época em que as chuvas são mais regulares, situação igualmente favorável à proliferação da doença. “As lesões registradas na fase inicial não são perceptíveis a olho nu. O produtor deve utilizar uma lupa de aumento de 20 vezes para conseguir verificar os primeiros sinais da doença”, afirma Reis.
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