Os problemas climáticos que afetam a produção de trigo na América do Sul podem comprometer a qualidade do produto mas não o volume, avaliam participantes do Congresso do Internacional da Indústria do Trigo, que acontece em Campinas (SP). “Os argentinos terão safra cheia. A única tendência é algum nível de qualidade inferior, mas nada que traga problemas para a indústria nacional”, considerou um representante da indústria que se abastece no país vizinho.
Mais cedo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que Estados Unidos e União Europeia, em especial a Rússia, poderão complementar a oferta do Mercosul. Um executivo que não quis se identificar afirma, no entanto, que apenas moinhos do Nordeste devem adquirir trigo norte-americano. Para esses moinhos do Norte, a despesa para comprar dos Estados Unidos eventualmente é menor do que buscar trigo no Rio Grande do Sul, mesmo com o imposto de 10% que incide sobre o cereal importado de fora do Mercosul. A expectativa da fonte é de que 750 mil a 800 mil toneladas do cereal dos EUA sejam importados pela indústria do Nordeste se o governo brasileiro, a exemplo de anos anteriores em que a produção nacional caiu, retirar a Tarifa Externa Comum (TEC) para o cereal.
No caso da Europa, Maggi destacou que os russos produziram mais de 80 milhões de toneladas de trigo neste ano e querem exportar para o Brasil. Novamente na contramão, o executivo da multinacional disse que as tradings descartam a possibilidade de importar o cereal da Rússia porque, além de ser um produto com preço mais alto, a qualidade é inferior comparada à dos demais fornecedores externos. “Economicamente, não é viável”, enfatizou. “O fomento do governo para a aquisição de trigo russo está mais relacionado a acordos comerciais de outros produtos agropecuários do que ao que é, de fato, melhor para a cadeia. Todos os anos falam sobre esta possibilidade porque quando se estabelece a venda de carne suína para a Rússia, por exemplo, o governo daquele país quer nos vender algo como contrapartida. Na prática, isso não acontece”, explica a fonte.
Neste contexto, a Argentina deve seguir como principal opção das tradings que trazem trigo para o Brasil. “Não vemos grandes mudanças de produção em relação ao que foi colhido no ano passado e eles continuarão como nossos grandes fornecedores”, enfatiza a fonte. Nos últimos dois anos, o país vizinho tem produzido em torno de 17 milhões de toneladas do cereal.
De acordo com o Ministério da Agricultura, do total de trigo recebido de fora em setembro, 93% vieram da Argentina, cerca de 429 mil toneladas, acima das 422,1 mil toneladas importadas do país no mesmo período do ano passado. Os Estados Unidos, que haviam enviado ao Brasil em setembro de 2016 246,1 mil toneladas, neste ano exportaram apenas 27,5 mil toneladas. No acumulado dos nove meses de 2017, a Argentina lidera disparado o suprimento dos moinhos nacionais com 3,869 milhões de toneladas, 82% do total.