Custo do látex supera remuneração e faz produtor deixar atividade

Somente 30% da matéria-prima utilizada na confecção de pneus é brasileira e indústria indica falta de política agrícola para estimular o aumento de produção do setor

O preço do látex, matéria-prima utilizada na produção de borracha, está abaixo do valor mínimo estabelecido pelo governo federal, de R$ 2 o quilo. O setor diz que este valor não é suficiente para remunerar o produtor e cobrir o custo de produção, que hoje é de aproximadamente R$ 2,50. As projeções para os próximos meses indicam que o preço pago pelo quilo do produto deve ficar em torno de R$ 1,90.

“Esse momento ruim persiste há mais de dois anos e eu estou muito preocupado com o que eu vou fazer com tudo isto, até quando eu vou trabalhar no vermelho? Então, a gente já pensa em desistir do setor, porque nós não temos mais condições de sobreviver com ele”, afirma o seringueiro Mário Furquim. A produção de borracha sustentou a família por mais de 30 anos, mas o negócio não tem sido mais viável.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural, Fábio Magrini, é preciso reajustar o preço mínimo, mas a situação do país dificulta este processo. “O mercado internacional já está ruim e nós já estamos começando a vender abaixo do preço mínimo”, diz. 

Afalta de incentivo para estimular a produção de látex no país prejudica toda a cadeia. As indústrias de pneus, pro exemplo, utilizam somente 30% de toda a matéria-prima nacional na fabricação do produto. 

“Eu poderia crescer aumentando a compra de borracha natural brasileira desde que existisse oferta. Nós acreditamos que o Brasil tem uma grande capacidade de crescimento e isso precisa ser acompanhado de uma política agrícola específica para o setor. Se não houver essa política, a indústria de pneus vai continuar comprando do exterior aquilo que não for produzido localmente”, explica o presidente da Associação Nacional da Indústrias Pneumáticas, Alberto Mayer.

Atualmente, o Brasil produz 210 mil toneladas de borracha, o que corresponde à metade da demanda interna. O restante é importado de países asiáticos. Por conta disso, o preço nacional está atrelado ao mercado externo, que tem sofrido com a queda no consumo. Somente nos últimos três meses, o valor da tonelada da borracha natural caiu pela metade. “Essa redução de demanda causa impacto nas cotações da bolsa internacional e isto reflete para os produtores aqui do Brasil”, afirma Magrini.