A quebra da última safra de arroz no Rio Grande do Sul, causada pelo fenômeno El Niño, deixou muitos produtores no prejuízo e quem buscou reembolso no seguro rural teve de lidar com a frustração. Segundo o presidente da câmara setorial do arroz, Daire Coutinho, que esteve com representantes do setor nesta quinta-feira, DI 15, em Brasília, o atual modelo de contratação de seguro precisa mudar.
“Nós acreditamos que a decisão do ministro (da Agricultura) Blairo Maggi em fazer uma análise do seguro no país é muito positiva. Nós achamos que o valor da subvenção tem que ser aumentado para dar essa tranquilidade ao produtor e, principalmente, ao consumidor”, avaliou.
Os produtores de arroz querem que os bancos permitam a contratação de financiamentos com a opção de um seguro rural de outra instituição, o que, em teoria, é lei e acontece em algumas entidades. Porém, segundo o relato do setor produtivo, a venda casada continua acontecendo em alguns bancos e impede a escolha de um seguro que atenda às necessidades do agricultor.
“O seguro indeniza um percentual do valor do financiamento e não o valor total que o produtor gasta. Já existem seguradoras que, pelo menos, se aproximam do valor do desembolso que o produtor tem”, disse Alexandre Velho, vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Su (Federarroz-RS).
Para o representante da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) na Câmara Setorial do Arroz, Francisco Shardong, os produtores estão cientes que podem pagar mais por esse modelo, mas querem o direito de escolher. “Além da nossa expectativa de lavoura, nós também temos a sobrevivência familiar e precisamos de um seguro novo, que nós estamos conscientes que vai nos custar mais caro, mas que vai nos dar tranquilidade”, disse.
O setor também questiona a burocracia para acessar o crédito do plano safra 2016/2017. De acordo com dados do Banco Central, a contratação em julho e agosto deste ano foi 20% menor do que no mesmo período do ano passado. “A tendência é ficar cada vez pior se não houver uma alteração no tratamento dado ao produtor de arroz, porque o produtor vem acumulando dificuldades das últimas safras”, falou Tiago Barata, diretor comercial do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).
A reunião na câmara setorial do arroz também tratou de uma recomendação da Anvisa para que indústrias alimentícias incluam no rótulo do produto a informação de que o alimento pode conter ingredientes que causam alergia. A exigência, no entanto, não é bem vista pelos agricultores.
“A Anvisa fez uma apresentação sobre a possibilidade de contaminação cruzada por utilização do mesmo caminhão ou pelo fato de o produtor utilizar a mesma peneira para o arroz e a soja (…). Nós precisamos conhecer mais o assunto para que não se venha trazer, em vez de esclarecimentos, dúvidas na cabeça do consumidor”, finalizou Daire.