Produtores reclamam das dificuldades para acessar o seguro rural

Em todo o país, cerca de apenas 10% da produção é seguradaOs temporais desta semana no Sul e no Sudeste levantam mais uma vez a discussão sobre a necessidade do seguro agrícola para a produção brasileira. Governo e seguradoras dizem que o acesso ao recurso aumentou nos últimos anos, mas para produtores e analistas o sistema ainda não é eficiente como deveria.

Pela experiência, o produtor Valdomiro Secco calcula que, no mínimo, 40% da plantação de uva foram comprometidos pelo granizo que caiu na semana.

? A gente tem feito seguro, e a cobertura que a gente tem feito, dado que o seguro é muito caro, é apenas para cobrir as despesas. Pelo menos a comida do pessoal, mais os insumos que são colocados na planta ? diz Secco.

O produtor planta uvas na região de Indaiatuba, no interior de São Paulo, há 45 anos e tem 70 mil pés da planta. O parreiral está segurado em R$ 210 mil. Do prêmio do seguro, que chega a R$ 21 mil, o governo federal paga 60%, o do Estado de SP a metade do restante e ele, o produtor, a outra metade. Este ano ele desembolsou R$ 4 mil para isso.

Em todo o país, cerca de apenas 10% da produção é segurada. A procura por seguros até aumentou nos últimos anos, mas em situações como desta semana no Sul e no Sudeste é que se percebe o quanto este recurso é indispensável no campo e, de forma geral, o quanto ainda é difícil para o produtor ter acesso a ele.

Este consultor de mercado tem a explicação. Ele diz que o problema é que o seguro agrícola no Brasil não é adequado à realidade do produtor, que é diferente em cada região, para cada cultura. O sistema não obedece ao perfil do produtor rural. E aí a conseqüência.

? O agricultor que adota tecnologia de ponta, que é menos suscetível a alterações climáticas, paga o mesmo prêmio que o agricultor que não adota tecnologia e está altamente suscetível a riscos climáticos ? explica o consultor de mercado Matheus Marino.

Também as seguradoras têm dificuldade de fechar contratos por causa deste mesmo problema. Geraldo é diretor comercial de uma delas. Atualmente, as segurados brasileiras trabalham com a média de produtividade entre os que têm alta tecnologia e os que não têm. Ele diz também que, além da participação dos governos, com subsídios, é preciso criar no país a cultura do seguro.

? O próprio setor produtivo tem que se unir e buscar a cobertura de risco. Tendo volume, vamos ter condições de ter uma precificação mais adequada. O seguro agrícola é diferente de qualquer outro tipo de seguro ou de risco que existe no mercado. O agricultor prepara o solo, joga a semente. Aí ele e São Pedro ficam um torcendo para o outro. Se não vier a chuva na hora certa, ele vai perder o processo de plantio. Então, é complicado ? disse o diretor comercial de seguradora, Geraldo Mafra.

Segundo o Ministério da Agricultura neste ano já foram feitas 34 mil operações de seguros no Brasil. Cerca de 140 milhões de recursos foram disponibilizados e a área de cobertura até agora chega a 3,2 milhões de hectares.