O Brasil foi às urnas neste domingo escolher os prefeitos e os vereadores que vão cuidar das cidades nos próximos anos. As equipes do Canal Rural percorreram alguns municípios para saber quais são os compromissos com os produtores rurais.
Primavera do Leste, Mato Grosso
Localizada na região sul de Mato Grosso, a cidade é a quinta maior economia do estado. A produção de grãos é a principal atividade do município que, na safra passada, cultivou mais de 270 mil hectares de soja. Segundo o presidente do sindicato rural local, José Nardes, a falta de estrutura nas estradas municipais dificulta o transporte da produção.
“Nós temos propriedades que estão a 140 quilômetros daqui e isso agrega um valor muito alto para o frete, chegando até a 5% do custo de produção. Essas rodovias não têm asfalto e isso encarece o frete por causa do tempo perdido. Nós colhemos a soja nos meses de março e abril e é justamente no período chuvoso que as estradas ficam sem condições”, disse.
Além da falta de estrutura nas estradas, outro ponto importante para estimular a produção de grãos na cidade é a redução na tarifa de energia elétrica em áreas rurais. Em Primavera do Leste são mais de 37 mil hectares de área irrigada. “Nós pagávamos 35% a menos de energia elétrica até o ano passado e perdemos esse incentivo do estado. Hoje está quase inviável a irrigação, porque um pivô que nós pagávamos cerca de R$ 9 mil por mês, hoje nós pagamos de R$ 13 mil a R$ 15 mil”, concluiu Nardes.
Eleição indefinida
A eleição municipal foi vencida por Getúlio Viana (PSB), com 64,5% dos votos válidos, mas ele pode não tomar posse. Isso porque a Justiça Eleitoral impugnou, no dia 13 de setembro, a candidatura do político, a pedido do Ministério Público Eleitoral. Viana é acusado de improbidade administrativa.
Na semana passada Getúlio Viana entrou com recurso no Tribunal Regional Eleitoral em Cuiabá e perdeu em decisão unânime por sete votos a zero. Agora, o candidato vai recorrer da decisão no Tribunal Superior Eleitoral em Brasília. Enquanto o caso não for resolvido, os votos recebidos são considerados nulos de acordo com o Código Eleitoral.
Mesmo com a situação indefinida, o candidato do PSB diz que a pavimentação das estradas rurais municipais vai ser prioridade caso ele consiga tomar posse em janeiro de 2017. “Eu acredito que nós vamos fazer nesses quatros anos cerca de um milhão de metros quadrados de asfalto, que seria mais ou menos 150 quilômetros, nas principais rodovias municipais na nossa área rural. Esse investimento vai ser feito com o dinheiro do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), que vem para ajudar. Ele também pode ser feito em parceria com os produtores que podem entrar com uma contribuição e esse asfalto se pagará em quatro ou cinco anos pelo custo-benefício”, disse.
Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Na capital gaúcha, a eleição para prefeito terá um segundo turno a ser disputado entre os candidatos Nelson Marchezan Junior (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB). Para o produtor e presidente do sindicato rural, Cléber Vieira, os candidatos devem atender bem as demandas do setor, entre elas a de dar mais incentivo à comercialização. Nós precisamos manter o produtor rural na terra, agregando valor às coisas que ele produz e isso será feito com feira, pontos comerciais em lugares atraentes, para que o agricultor possa vender diretamente ao consumidor final o seu produto. Com isso, os filhos voltam pra dentro da propriedade, o que não estava acontecendo”, disse;
O deputado federal Nelson Marchezan, que recebeu mais de 213 mil votos, e o vice-prefeito Sebastião Melo, que foi a escolha de 185 mil eleitores, dizem ter conhecimento do setor produtivo da capital. “O nosso governo tem uma parceria muito forte e, se eu for prefeito, reafirmaremos essa parceria, porque ela é muito importante, especialmente quando o assunto é sustentabilidade. Nós temos muitos produtores rurais e eles são muito importante para a economia”, disse Melo.
Nelson Marchezan também falou que os produtores rurais serão tratados com prioridade em seu governo. “A gente tem que buscar uma alternativa pra que todas aquelas atividades que geram emprego, receita e qualidade de vida. E sem dúvida o tamanho da nossa área rural é significativa. Conheço bem o setor, sei das suas potencialidades e, portanto, evidentemente pela extensão rural que tem Porto Alegre, ela tem que estar dentro das prioridades de qualquer prefeito”, falou.
Cristalina, Goiás
O fim de semana de eleições em Cristalina, município com o maior PIB agrícola de Goiás, foi violento. Quatro propriedades foram assaltadas, segundo o presidente do sindicato rural da cidade, Alécio Maróstica,que reivindica mais segurança na região para os próximos quatro anos. “A gente já vem se arrastando com isso há alguns anos e, por mais que a gente reclame, o estado se mostra incompetente para combater essa bandidagem. Da maneira que está, posso dizer que está beirando o caos, chegando ao ponto de produtor não querer mais plantar por não ter condições de armazenar nada dentro da propriedade e de funcionário dele não querer ficar lá pra trabalhar”, avaliou.
O prefeito eleito com 82%dos votos, Daniel do Sindicato, do PSB, faz parte de uma família de produtores e teve apoio do setor rural. Ele assegura que vai agir para melhorar a segurança. “Nós vamos ter que colocar dinheiro municipal na segurança. Vamos ter que criar uma guarda municipal pra ajudar a PM, a Polícia Civil e eu pretendo trabalhar dessa forma. Pretendo criar estrutura de viaturas de armamentos, valorizando o guarda municipal e colocando ele nas ruas e na zona rural”, disse o prefeito eleito.
As reivindicações pela melhoria na qualidade das estradas que atendem às regiões produtoras também vão ser atendidas, segundo o novo prefeito. Uma das mais críticas é a GO-436. “Nesta rodovia eu ou a senadora Lúcia Vânia, dentro outros deputados que nos apoiaram na nossa eleição, que 70% dos parlamentares hoje fizeram parte do nosso grupo político. Antes de tomar posse, já vou procurar esse grupo político e vou tentar resolver o problema da GO-436, que está intransitável”, disse.
Os produtores também querem que a nova prefeitura ajude a desburocratizar a liberação de licenças e outorgas para irrigação, além de melhorar a qualidade da energia elétrica fornecida à região. O prefeito eleito garante que vai atender ao pedido, criando uma superintendência de irrigação. “A gente precisa criar uma estrutura pra cuidar disso, pra ajudar na associação dos irrigantes do estado de Goiás, pra ajudar a secretaria de agricultura. Nós vamos criar essa superintendência que vai ficar por conta desses serviços, dando destaque à irrigação, dando destaque às nossas demandas”, finalizou.
Piracicaba, São Paulo
Na cidade do interior paulista, o candidato Barjas Negri, do PSDB, foi eleito com quase 70% dos votos. Este vai ser o terceiro mandato dele como prefeito do município que é um polo do setor sucroenergético. A área rural corresponde a mais de 97% do município de Piracicaba e, por esse motivo, as estradas rurais são muito importantes para os moradores, seja para o transporte de produtos agropecuários, como para fazer chegar até a população serviços essenciais como saúde e segurança pública.
“A prefeitura participa das discussões, com a cooperativa dos plantadores de cana, com as outras entidades da área para que a gente possa fazer com que a safra escorra rapidamente. Imagine dois mil quilômetros de estradas rurais e o que é conservar máquinas e equipamentos, cascalhar, pedregulhar, fazer a recuperação diária no período da entressafra, pra que a safra passa escoar tranquilamente”, disse o prefeito eleito.
Para o produtor de leite José Dini Sobrinho, que tem uma pequena propriedade no município de Artemis,a principal reivindicação é por mais policiamento na área rural, causado principalmente pela dificuldade no deslocamento de viaturas. “Agente precisa de mais segurança, de um efetivo melhor, três policiais na viatura e sempre viatura boa”, disse.
O presidente do Sindicato Rural de Piracicaba acredita que as demandas do campo muitas vezes são deixadas de lado porque a maior parte dos eleitores vive na área urbana. “Não só os prefeitos, mas os governadores e deputados precisam olhar com mais carinho para o homem do campo”, resumiu Arnaldo Antonio Bortoletto.