O bem-estar animal é, cada vez mais, um fator indispensável para abrir o mercado internacional de carne suína. O Brasil caminha neste sentido e começa a se adaptar e cumprir exigências. Para as granjas, entretanto, a principal dificuldade na implementação dessas práticas é o aumento dos custos.
A gerente de Manejo Alessandra de Fátima Lima é responsável por controlar a temperatura da maternidade da granja em que trabalha. Duas vezes ao dia, ela confere o termômetro e regula a cortina para a circulação do ar. “Se ficar muito quente, a porca não consegue se alimentar, porque está muito abafado para ela”, explica. Este é um exemplo de cuidado com o bem-estar animal que é realizado em uma granja no município de Monte Alegre do Sul, no interior paulista, onde 1,2 mil suínos são abatidos por mês.
Uma das principais mudanças do manejo é a baia coletiva das matrizes. Elas não ficam confinadas em gaiolas e dividem o espaço. São três metros quadrados para cada fêmea. Nos grupos, são mantidas sempre as mesmas porcas, pois a troca de animais pode gerar estresse. Porém, a maioria das 600 matrizes ainda é criada nas gaiolas que restringem os movimentos. O proprietário explica que essas mudanças são feitas aos poucos, porque a adequação da infraestrutura depende de investimentos.
“Estamos melhorando no manejar, no dia-a-dia, mas tem coisa que tem que manter paralelo. Investimento em creche, em maternidade, investimento em instalações. Estou com uma maternidade parada há quatro meses por falta de recurso. Então, a gente fica muito limitado por causa da parte financeira”, diz o proprietário da Fazenda Nápoles, Demétrius Napoleão Nápoles.
Com as cartilhas dos últimos treinamentos da granja, que foram realizados pelas associações brasileira e paulista de criadores de suínos, os funcionários estão mais atentos a todos os detalhes, da etapa de produção até o momento em que os animais vão para o frigorífico. “O animal da gente, estando com toda a qualidade daqui, aí vem o caminhão para carregar todo sujo. Aí todo o procedimento que a gente fez lá na frente vai se terminar na hora do carregamento”, diz o auxiliar de Serviços Gerais Roberto da Silva Souza.
“A gente tem que pensar sempre com muito amor, com muita humanidade na hora que a gente trata os nossos animais, porque o nosso trabalho é produzir uma carne de qualidade e, para produzir uma carne de qualidade, a gente precisa trabalhar de fato o bem-estar animal”, afirma a gerente-geral da granja Nápoles, Márcia Regina Cordeiro.
O estresse deixa os suínos agitados e eles acabam se machucando, o que pode gerar perdas no aproveitamento da carcaça. Por isso, a melhoria no manejo também é benéfica para a receita do negócio.
Para o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, o Brasil precisa se adaptar e cumprir as exigências do consumidor. “Nós vendemos porque temos sanidade. Ano passado, os Estados Unidos perderam uma fatia grande, a União Europeia idem, mas não só por problema político, mas por problema sanitário, e por problema sanitário a própria China está reduzindo a produção e comprando carne brasileira”, diz.