Mais de 500 caminhões de vaqueiros de todo o Brasil já chegaram a Brasília para a grande manifestação pela regulamentação da vaquejada, programada para ocorrer nesta terça-feira na Esplanada dos Ministérios.
O ato que deve contar com cerca de quatro mil pessoas pretende pressionar o governo, o Congresso e o poder judiciário a regulamentar a atividade no país. O vaqueiro Adjaílson Paiva chegou de Pernambuco no domingo e acredita que o fim da vaquejada seria um duro golpe para milhares de pessoas.
“A gente não sabe fazer outra coisa. Estamos na vaquejada viajando todo fim de semana, ela é a nossa família. Se acabar a vaquejada, acabou o Nordeste todo”, disse Paiva, que vai protestar nesta terça ao lado da esposa, Ana Carla Batista.
Concentração
Os manifestantes que estão chegando ao Distrito Federal escolheram o Parque Leão, em Samambaia, a 30 quilômetros do centro de Brasília para fazer a concentração do ato. O local é conhecido por sediar rodeios e vaquejadas no distrito federal.
O empresário Raul Leão, proprietário do parque, também tem outras arenas na Bahia e em Minas Gerais e lamenta a possibilidade da vaquejada ser proibida em todo o país. “Você não tem como realizar uma vaquejada sem ter um juiz de vaquejada ou uma equipe de curral profissional nessa área para evitar qualquer tipo de maus-tratos desse animal. Nós temos veterinários acompanhando toda a movimentação do evento, fiscalizando até os problemas sanitários pra que não haja disseminação de doença”,
O diretor de relações públicas da Associação Brasileira de Vaquejada (Abvaq), Leon Freire, defende que a atividade possui uma série de regras que garantem o bem-estar do animal e que a regulamentação é o melhor caminho para evitar maus tratos.
“Nós temos o protetor de cauda o que proporciona que, por exemplo, os 600 bois de uma vaquejada terminem a competição com a cauda intacta e voltem para o pasto normamente. Nós também temos de 30 a 50 centímetros de areia para que a pista seja bem forrada, para que o boi possa cair com o mínimo de desconforto possível”, disse, ressaltando também a presença de juízes e veterinários em todas as competições.
Renan Calheiros
O presidente do Senado, Renan Calheiros, disse nesta segunda que a casa está aberta para discutir a regulamentação da vaquejada no país. Os representantes de entidades ligadas à atividade se reuniram com o senador no fim da tarde, em Brasília.
A conversa durou cerca de 20 minutos e a comissão Vaquejada Legal falou sobre a preocupação com a proibição da atividade no estado do Ceará. As entidades pediram apoio do presidente do senado para a regulamentação da vaquejada. “Ele nos recebeu bem e entendeu bem a situação. Viu que a nossa intenção e preocupação com o bem-estar animal e como o mercado do cavalo movimenta R$ 16 milhões, além das 700 mil pessoas que dependem desse trabalho”, ressaltou o presidente da comissão Vaquejada Legal, Paulo Farha.
Entenda o caso
A decisão de fazer uma grande manifestação nacional em prol da vaquejada partiu da Abvaq e da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), após julgamento do STF que entendeu ser inconstitucional uma lei do Ceará regulamentando a vaquejada como prática esportiva. O assunto tomou grandes proporções e suscitou debates entre os envolvidos na prática e os movimentos de defesa dos animais.
De um lado, defende-se a vaquejada como uma manifestação cultural que gera emprego e renda para milhares de família envolvidas de forma direta e indireta na atividade. De outro, ativistas alegam que ocorrem maus-tratos a cavalos e bois que participam dos eventos.
A Abvaq afirma que a prática de correr atrás do boi e derrubá-lo não se diferencia do que ocorre nas fazendas do país. O mesmo valeria para o percurso feito pelo animal, que sai do curral, passa por bretes, pista e volta ao curral.
A associação defende a realização de vaquejadas estejam dentro das normas e parâmetros de defesa animal, tais como a utilização de protetor de cauda, currais com água e comida à vontade para os bois, além de arena com pelo menos 30 cm de areia, para amortecer a queda dos vaqueiros e do gado. O uso de esporas e chicote foi abolido, afirma Leon Freire. “Todas as vaquejadas feitas por associados da Abvaq mantêm uma equipe de veterinários 24 horas à disposição, além de dois juízes ‘de fora’ que avaliam a defesa animal”.