Produtores de hortaliças do interior de São Paulo contabilizam prejuízos causados por uma doença popularmente conhecida como vira-cabeça, que está afetando principalmente a alface crespa, deixando muitas propriedades da região já sem produtos para repassar ao mercado.
Quase imperceptível aos olhos, mas devastador nos canteiros de hortaliças, o hospedeiro do vírus vira-cabeça é o inseto chamado de tripes e que se alastra pelo ar e, em poucas semanas, é capaz de necrosar e matar principalmente as hortaliças menos resistentes.
“O inseto vetor contaminado pica essa planta e transmite a virose. Essa virose atrofia e causa a necrose foliar, inviabilizando o consumo da hortaliça. O problema é que a aparência da planta fica muito ruim e ela não tem comercialização”, disse o engenheiro agrônomo Alexandre do Nascimento Costa.
O vira cabeça sempre preocupou os produtores brasileiros, mas no interior de São Paulo a estiagem de 2014 fez a doença se alastrar e, em muitas áreas, a situação está fora de controle. Em Paulínia, por exemplo, horticultores como o Reginaldo Pereira contabilizam prejuízos que passam dos R$ 30 mil. “Só aqui eu perdi uns 80%. Pela quantidade que eu planto, passa das 40 mil dúzias de alface, que é o meu carro-chefe. A situação está difícil, com custo caro e verdura ruim e ainda acontece isso”, lamentou.
Controle
O que dificulta o controle da doença é a resistência do vírus aos inseticidas disponíveis no mercado. Como não existe um defensivo específico, fazer a aplicação após o avanço do inseto sobre a horta quase não dá resultado. “São três produtos, mas do mesmo grupo químico. Então, você não consegue fazer a alternância de grupos químicos e você acaba fazendo alternâncias de princípios ativos. Com isso, acaba correndo o risco de gerar uma resistÊncia na praga”, ressaltou Alexandre.
Para controlar o alastramento do vírus, o produtor Evandro Frigeri está investindo na prevenção. Desde que registrou perdas de até 100% há dois anos, ele coloca em prática manejos simples como rotação de culturas e aumento da irrigação dos canteiros. “Diminui o espaçamento das linhas e a terra fica mais úmida, fechando a área. Com a terra mais úmida, a doença não se alastra”, disse o produtor.
A aplicação de óleo de neem, um repelente natural de insetos também tem ajudado o produtor a evitar que a doença se espalhe. O outro recurso é a vitamina foliar, que mantém as hortaliças mais fortes ao ataque do inseto. “A planta fica mais resistente e a planta com mais saúde pega menos doença. A gente usa bastante produto orgânico, que são produtos caros, mas que vale a pena no final”, finalizou Evandro.