Indústria pretende dobrar a produção de cacau em 10 anos

Volume de 400 mil toneladas pode elevar o Brasil ao posto de terceiro maior produtor mundial e irrigar R$ 15 bilhões para a economia

Fonte: Pixabay

A indústria de cacau brasileira quer dobrar a produção da commodity no Brasil de 200 mil para 400 mil toneladas em 10 anos, levando o País a se tornar o terceiro maior produtor mundial, disse o diretor executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras do Cacau (AIPC), Eduardo Bastos, em palestra no Fórum Estadão – A Importância do Cacau na Economia Brasileira.

Segundo ele, só o aumento de 100 mil toneladas nos primeiros cinco anos vai irrigar R$ 15 bilhões para a economia brasileira. “São recursos muito importantes que o País precisa para crescer e distribuir mais renda, trazendo um benefício para a sociedade.”

Bastos ressaltou que, em outras cadeias agrícolas, o Brasil sempre está entre os principais produtores por ter uma das maiores áreas cultiváveis do mundo e a ideia é que isso seja uma realidade também no cacau. Ele destacou o potencial do país como protagonista na produção de alimentos, fibras e energia nos próximos anos. “É isso que o mundo espera de nós.”

O diretor da AIPC assinalou ainda que, com uma produtividade média de 500 quilos e propriedades em torno de 10 hectares, é possível trazer 20 mil novos produtores familiares para o cultivo do cacau. “Isso significa quase 100 mil brasileiros voltando a produzir.” Bastos destacou ainda o benefício ambiental do cacau, nativo da região amazônica, para a proteção da floresta e sustentabilidade do meio-ambiente.

O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, lembrou que o Brasil foi um grande exportador até 1995, quando a cadeia sofreu dois impactos: a falta de renovação da pesquisa para a cultura; e a ocorrência da vassoura de bruxa sem caminhos adequados para o combate à doença; elementos que fizeram com que o Brasil se tornasse importador e perdesse espaço para o continente africano.

“Em um país com a dimensão do Brasil, o potencial do cacau é extraordinário”, assinalou Carvalho. Ele destacou que o setor de cacau passou a ter participação de capital externo pesada e o Brasil precisa participar disso. “É fundamental investimento em pesquisa e desenvolvimento e a procura por novas áreas que permitam o desenvolvimento da cultura.”

Carvalho assinalou ainda que o setor precisa buscar uma produção com alta competitividade para retomar a importância que o país já teve na oferta global.

Tecnologia

Um dos anseios da cadeia produtiva do cacau é que as pesquisas sobre o setor estejam mais alinhadas com as reais necessidades dos produtores no campo. “O problema é financiar anseios de todos os pesquisadores, eles acham tudo interessantíssimo e trazem resultados fantásticos, mas o produtor olha aquilo e pensa: ‘O que faço com isso?’. Se a gente não traz pesquisa aplicada, vejo muita dificuldade”, afirmou Patrícia Morales, diretora executiva da Agrícola Conduro.

O representante da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Guilherme Moura, afirmou que houve um salto tecnológico no segmento agropecuário brasileiro, mas que o cacau ficou à margem disso. Ele ressaltou que o país é um dos poucos que reúnem no mesmo lugar potencial de produção, pesquisa, processamento e consumo. Além disso, afirmou que, neste mesmo período, a cultura cacaueira evoluiu em outras regiões produtoras do mundo. “Quando você tem um ambiente de transparência e governança participativa, acaba atraindo capital privado. A gente tem de criar um ambiente de pesquisa com recursos privados e públicos”, disse.

A parceria público-privada foi um ponto de concordância no debate. Para os representantes do setor, este é um dos principais caminhos para que o setor possa evoluir, como ressaltou Eduardo Bastos, diretor executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

Para a pesquisadora da Unicamp Priscilla Efraim, a resposta para juntar universidade e setor produtivo é o desenvolvimento de parcerias e contatos. Durante o debate, a pesquisadora destacou a importância da pesquisa para três desafios citados como relevantes por integrantes da indústria na plateia: a questão da fermentação e as preocupações com metais pesados e micotoxinas.

O diretor-geral da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Sérgio Menezes, destacou que as instâncias públicas estão carentes de recursos. “A tendência é a parceria. Ajuda a evitar sombreamentos e amplia a cooperação”, disse. Segundo ele, a Ceplac tem feito um trabalho junto a produtores para que avaliem se os temas pesquisados pelo instituto atendem às demandas dos produtores e, caso a conclusão seja negativa, a pesquisa é reorientada para outras questões mais prioritárias para o setor.

O representante do WorldWatch Institute, Eduardo Athayde, destacou a potencialidade das pesquisas que possam gerar efeitos positivos de sustentabilidade. “A pesquisa em eficiência energética, a agricultura de baixo carbono… Temos de correr atrás. Toda vez que uma universidade estrangeira vê o potencial que há aqui todo mundo quer participar, mas articular localmente é que é o problema”, disse. Ele também falou sobre que esta tendência sustentável instalada no mundo deve fazer com que o presidente recém-eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, desista de algumas propostas de campanha, como a rejeição do Protocolo de Paris. “Ele é um homem de negócios e, quando entender a economia de trilhões dólares envolvida em um processo de descarbonização, vai ser o carro-chefe de uma movimentação internacional”, disse.