Agricultura sente os efeitos das mudanças climáticas em 2016

Ano que começou com a influência do fenômeno El Niño, terminou sob os domínios do La Niña

Fonte: Mateus Fuchs

O último verão foi influenciado por um dos El Niños mais fortes da história. A chuva ficou concentrada sobre a região sul por quase toda a estação. A única exceção foi o mês de janeiro de 2016, quando as precipitações foram mais intensas do que o normal sobre a região de Matopiba, norte de Minas Gerais e Goiás, nordeste de Mato Grosso e sudeste do Pará.

O fato animou muitos produtores que fizeram o plantio tardio de soja, milho e algodão, cenário, no entanto, que não perdurou.

As precipitações terminaram e Matopiba (composto por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) teve uma das piores safras dos últimos anos. Com a estiagem, a produtividade do milho safrinha despencou. No algodão, não foi diferente.

E nem o inverno trouxe alivio. O frio intenso e frequente provocou várias geadas, afetando áreas produtoras de milho trigo e café do Centro-Sul do Brasil. Segundo produtores, foi possível  plantar o milho e por um certo período o clima correu bem. Só que depois veio a falta de chuva, seguida de uma geada violenta. Eles recorreram à irrigação, que provocou melhoras pontuais. No entanto, as geadas estragaram cerca de 80% da produção.

Em julho, o frio foi tão forte que houve relatos de geada até mesmo em Goiás. Era o sinal do La Niña, que mesmo fraco acabou esticando o inverno no Hemisfério Sul do planeta.

Retorno bem-vindo

Na primavera, o que chamou a atenção foi o retorno das chuvas ao Brasil. Alguns episódios aconteceram ainda em agosto, o que não é comum. Com a atmosfera mais fria do que o normal, o trigo que estava prestes a ser colhido foi atingido por uma chuva de granizo no Paraná.

Em setembro, chuvas fortes entre o Sudeste e Centro-Oeste, animaram os produtores de soja. Muitos aproveitaram e plantaram variedades precoces. No Matopiba, a chuva também reapareceu bem mais cedo, a partir do fim do mês.

Porém, mesmo com as chuvas, devido ao La Niña, as geadas duraram até setembro, no início da primavera e o frio fora de época continuou surpreendendo muitas pessoas do Centro-Sul do país até meados de dezembro. O ano terminou com a perspectiva de enfraquecimento do fenômeno La Niña até o fim do primeiro semestre de 2017. E, com este cenário, novas previsões são feitas para o próximo outono e inverno.

Perspectivas 

A curto prazo, não há risco de El Niño para 2017

Willians Bini, sócio-diretor da Somar Metereologia, até o final do outono, que seria o segundo trimestre do ano que vem, já haverá uma condição de neutralidade. “No próximo inverno já não teremos a condição típica de La Niña, ou seja, condição de frio intenso. Isso significa que as chances de geadas devem ser menores em 2017 do que em 2016″. De forma geral, assumindo a neutralidade, esta condição de chuva será mais regular para o segundo semestre do ano.

A maioria dos institutos de meteorologia está de acordo com o cenário de neutralidade climática para 2017, mas já existem previsões divulgadas pelo departamento de clima da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos, que indicam um aquecimento do oceano pacífico para o próximo inverno.

Analistas, no entanto, descartam a possibilidade de outro El Niño em 2017. “A curto prazo que é a confiança da maioria dos modelos de 4 a 5 meses, não há risco. O cenário mais provável é o de neutralidade. Deve haver um ligeiro aquecimento, mas neste espaço de tempo a condição é neutra no oceano pacífico”, avalia Marcelo Schneider, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).