A pecuária leiteira enfrentou uma sucessão de desafios ao longo de 2016. O alto custo de produção, problemas climáticos e a oscilação nos preços do leite acabaram por derrubar a produção nacional. Mas isso não foi tudo: o setor ainda teve que disputar espaço no mercado interno com grande volume de lácteos importados.
No primeiro semestre do ano, os laticínios inspecionados captaram 11 bilhões de litros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado representa queda de 6,5% em relação ao mesmo período de 2015.
Entre os motivos para essa diminuição está a estiagem que atingiu o Centro-Oeste e o excesso de chuvas no Sul, afirma o analista da Scot Consultoria Rafael Ribeiro. Os pecuaristas também foram prejudicados, segundo ele, pelo aumento de custos, como milho, energia, mão de obra e combustível.
A queda de produção gerou maior concorrência entre os laticínios e deu sustentação ao preço do leite. De acordo com a Scot, as cotações subiram, em média, 22% no primeiro semestre de 2016. Mas a forte valorização não fez frente ao avanço das despesas, que, em alguns casos, tiveram evolução de 30%.
Ribeiro lembra que, nesse período, a saca de milho atingiu um alto patamar – chegou a R$ 55 em São Paulo e foi mais além em outras praças, principalmente em Santa Catarina.
Pequenos produtores, como Divino Martins Ferreira, de Minas Gerais, foram os mais prejudicados com a situação. Ele, que ordenha na propriedade cerca de 500 litros de leite por dia, reduziu a produção para diminuir os gastos com a alimentação do rebanho.
Ferreira afirma que a tonelada de ração, por exemplo, subiu de R$ 850 para R$ 1.300. O preço do sal mineral, por sua vez, teria partido de menos de R$ 50 para no mínimo R$ 75 a tonelada, enquanto a mesma quantidade de silagem variou de R$ 120 no começo do ano para R$ 180.
A queda de produção e a falta de leite no mercado interno levaram as indústrias a aumentar as importações de lácteos. Entre janeiro e novembro de 2016, os volumes trazidos do exterior registraram crescimento de 80%, referindo-se, principalmente, a leite em pó proveniente do Uruguai.
No segundo semestre do ano, os preços voltaram a cair com o aumento da oferta no início da safra de leite. Entre setembro e novembro, as cotações recuaram 12%, com o mercado apresentando sinais de estabilidade em dezembro. Segundo a Scot, o setor fechou 2016 com preço médio de R$ 1,10 por litro, 6% a mais que a média do ano anterior.
A aposta de Rafael Ribeiro é que as cotações do produto voltem a subir. “Precisamos ficar de olho na demanda e nos custos de produção, que, a meu ver, devem ser menores, principalmente em relação ao primeiro semestre”, afirma o analista da consultoria.
Outra boa notícia para o setor é que as importações de produtos lácteos devem recuar em 2017, o que pode garantir melhores preços internos. Para o assessor técnico da comissão nacional da Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Thiago Rodrigues, a taxa de câmbio já não está tão favorável e os preços dos lácteos no exterior estão altos, inviabilizando a importação. “É preferível pagar mais ao produtor para ter essa captação no mercado interno”, afirma.