Crise hídrica preocupa produtores do DF

Apesar do período chuvoso, muitos produtores ainda sofrem com a falta de água em regiões do Centro-Oeste

Fonte: Pixabay

A crise hídrica no Distrito Federal atingiu níveis alarmantes e já provocou racionamento na área urbana. No meio rural, 780 produtores que captam águas de rios e córregos tiveram o volume reduzido em 50% e precisam dividir o que tem disponível entre os vizinhos.

Segundo o chefe da coordenação de informações hidrológicas da Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa), Welber Ferreira, o período chuvoso que começou em janeiro ajuda a reduzir o problema, mas ainda está longe de ser a solução. “Mesmo com o período de chuvas, ainda há regiões em que as vazões estão muito abaixo do histórico. Então, por isso, nós optamos por continuar com a alocação de uso, o que não chega a afetar tanto o agricultor que utiliza a água da chuva”, disse.

Em setembro do ano passado, o Rural Notícias mostrou o caso de uma comunidade de agricultores familiares em Planaltina que capta água do córrego para irrigar as lavouras. Além de precisarem reduzir o volume utilizado, eles também lidavam com a má conservação do canal de 16 quilômetros que leva a água até as propriedades. Na ocasião, um pedido de reforma foi feito, mas até agora a solicitação não foi atendida.

“Terminamos o projeto executivo e, agora, a gente está na fase de contratação da obra pra poder fazer as adequações necessárias para o canal, para evitar as perdas. Como dependemos muito de licitação, é difícil dar um panorama, mas a ideia é que esse ano a gente já comece os procedimentos de licitação”, disse Welber.

A agricultora Familiar Alvina Nunes mora perto da região e também enfrenta problemas com a falta de água. Segundo ela, foi preciso reduzir a área plantada para não perder a produção. “O final de ano foi difícil e ainda está complicado, porque era para estar com a horta toda plantada. Quando eu notei que teríamos pouca água, decidi plantar menos, para não perder a produção”, falou.

Como lidar?

Enquanto o volume de água não volta ao normal, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) dá dicas para lidar com a situação. Segundo o extensionista Leandro Souza, nessa situação, é preciso investir na eficiência da irrigação. “Orientamos o produtor a usar o gotejamento e fazer os cálculos de qual tipo de bomba ele tem que usar. Fazer a captação de água da chuva, com reservatório lonado pra não ter, realmente, uma quantidade de água que vá embora por infiltração, por exemplo”, orientou.

Plano de ação

Diante deste cenário, o Distrito Federal anunciou nesta segunda, dia 23, um plano de ação para conter a crise hídrica na bacia hidrográfica do alto rio descoberto. As medidas propostas para a zona rural vão atingir mais de 2,7 mil propriedades rurais e o resultado vai ser redução na área irrigada durante a safra de verão.

No anúncio, o governo disse que vai suspender o processo de liberação de novas outorgas de água na bacia do alto rio descoberto por tempo indeterminado. Quem captar água de forma irregular fica sujeito à multa de R$ 10 mil e corre o risco de ter o ponto de captação embargado.

O reservatório que abastece a região está com apenas 20% por cento da capacidade, em área, que abrange Brazlândia, Ceilândia e Taguatinga, que reúne propriedades rurais responsáveis pela produção de 40% das frutas e hortaliças consumidas no Distrito Federal.

A área irrigada chega a pouco mais de 1.500 hectares, a maior parte com sistema de aspersão. O governo quer que os agricultores substituam a tecnologia por opções mais sustentáveis como gotejamento e micro aspersão e vai ofertar uma linha de crédito específica para a conversão do modelo.

“Nós estamos colocando, em primeiro momento, R$ 5 milhões para fazer a substituição do sistema de irrigação”, anunciou o secretário de Agricultura do Distrito Federal, José Guilherme Leal.

Entre as medidas previstas no plano, também está a recuperação de canais de irrigação de uso coletivo, o revestimento de reservatórios de águas nas propriedades rurais e a recuperação de nascentes e cursos d’água na bacia do alto descoberto.

“Se nós vamos ter uma redução maior ou não vai depender da evolução, principalmente, da chuva. Estamos lançando esse plano pra que a gente possa ter um menor impacto para os agricultores, oferecendo tecnologia e apoio para que eles possam continuar produzindo mesmo na situação em que eles estão dando uma colaboração da redução da captação”, disse Leal.

O secretário de agricultura disse que a ideia é economizar aproximadamente 40% de água a mais na bacia do descoberto e, para isso, a área irrigada vai ter que cair. “A redução da área irrigada é proporcional ao que nós tivemos de redução de água. Logicamente que, se o agricultor correr na frente e colocar um sistema mais eficiente, ele vai ter que reduzir menos sua área. É nesse ponto que nós estamos apostando, em dar as condições pra que ele possa fazer rapidamente uma adequação do seu sistema de produção”, concluiu.