Câmbio e oferta: entenda a baixa no preço do milho

O rendimento em algumas regiões do país pagam apenas o custo de produção; produtores mantém esperança de alta 

Fonte: Fabrício Andrade/ Patrocínio (MG)

O preço do milho só reagirá no Brasil se a safra americana apresentar algum problema ou se a taxa de câmbio ficar mais favorável. É o que apontam os analistas do mercado. No interior de São Paulo, produtores estão esperançosos tanto com o preço quanto com o clima.

A família da produtora Jéssica Nascimento Alves plantou o milho safrinha em várias propriedades arrendadas na região de Sorocaba, interior de São Paulo. No total, são 350 hectares. O plantio começou em fevereiro e tem previsão de colheita para o final de junho. A expectativa é que o clima colabore para uma possível retomada.

“Precisamos de uma chuva, porque faz tempo que não chove. Agora, com a entrada do outono, o solo tá úmido e dá para aguentar mais. Mas estamos na torcida por uma boa chuva”, destaca Jéssica Alves. 

A expectativa é manter a produtividade de 2016: cerca de 146 sacas por hectare. Se a produção agrada, o preço deixa a desejar. Na temporada passada, a produtora conta que vendeu a saca de 60 kg por R$ 45. Neste ano está em torno dos R$ 24 – quase metade do preço. O valor cobre apenas os custos de produção. 

“Como o milho está com valor baixo em outras regiões, acho que só pagando as contas está bom. Acreditamos que estamos na vantagem”, aponta a produtora. 

Explicando a retração

Segundo especialistas, existem dois motivos paras a queda do preço do milho. O primeiro é o fato de o produto estar bem ofertado no mercado interno, com os estoques sendo recuperados devido a boa produção nacional. O segundo é o câmbio mais baixo. Diante deste cenário, os produtores tem segurado a produção à espera de uma melhora nos preços, mas esta recuperação talvez não aconteça. 

De acordo com o diretor commodities INTL FC Stone, Glauco Monte, o produto foi vendido muito pouco se comparado com o ano passado. 

“Podemos dizer que o produtor não aproveitou os melhores momentos de preço neste caso. Então, realmente é muita cautela porque ele tem segurado o milho na expectativa de bons preços. Mas é bom lembrar que viemos com um safrinha muito grande, que pode pesar e limitar um pouco esses ganhos adicionais que ele vem esperando”, analisa. 

Os preços de 2016 motivaram o plantio do milho safrinha em 2017, e a produção no país deve ultrapassar os 61 milhões de toneladas. O estoque final do grão pode chegar a 18 milhões de toneladas. 

Para a analista de mercado Ana Luiza Lodi o câmbio é um dos principais motivos para o atual cenário. “Este ano o câmbio não está tão favorável quanto no ano passado. O produtor tem segurado as vendas. E, se realmente continuarmos com este cenário, podemos terminar o ano com estoques muito elevados porque as exportações não estão tão competitivas”, aponta.