Uma aldeia indígena localizada em Viana (MA) foi atacada neste domingo, dia 30, por homens armados com facões e armas de fogo. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo menos 13 índios foram feridos, dois deles tiveram as mãos decepadas e cinco foram baleados. Na região, está localizado o Povoado das Bahias, área da etnia gamela.
Segundo informações do Cimi, os índios feridos foram socorridos no Hospital Socorrão 2, em São Luís. Dois índios foram alvo de tiros de raspão no rosto e já receberam alta. Os demais seguem internados. No caso mais grave, um deles teve uma mão decepada, o joelho cortado e está com uma bala alojada na coluna e outra na costela.
Ainda não há confirmação sobre a autoria do ataque, mas a área é disputada por fazendeiros da região. Após o registro do ataque, a Polícia Militar do estado foi deslocada para a região para intervir no conflito.
Ação premeditada
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), uma organização vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com um farto material público divulgado em redes sociais e mídia, apoiadores do povo Gamela e as lideranças indígenas afirmam que o ataque foi premeditado. “Fazendeiros e gente até de fora aqui da região passaram o dia reunidos, fazendo churrasco e bebendo. O encontro foi convocado dias antes, logo após a nossa última retomada”, disse uma liderança Gamela ao Cimi.
Na última sexta, os Gamela retomaram uma área contígua à aldeia Cajueiro Piraí (foto) localizada no interior do território tradicional reivindicado pelo povo. Logo cedo, o povo indígena trancou a rodovia MA-014, em apoio à Greve Geral e em sincronia com o 14º Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorria em Brasília. Em seguida, retomaram a área incidente na terra indígena, localizada ao fundo da aldeia Nova Vila, usada para a criação de búfalos e gado.
“Nossos pés em dança reafirmaram o Direito à Terra dos Encantados à qual pertencemos. À tarde seguimos em retomada para libertar mais um pedaço do nosso Território aprisionado por fazendeiros. A resposta dos nossos Encantados veio em forma de chuva generosa e abundante. Nossos rios e igarapés transbordaram; açudes construídos sobre Lugares Sagrados foram rompidos. Águas se encontraram. Teremos peixe e pássaros em abundância”, diz trecho da nota divulgada pelos Gamela.
A reação foi imediata, segundo o Cimi. Pelo WhatsApp, um texto passou a circular em diversos grupos de Viana, Matinha, Santero:
“Comunicado, venho através deste comunicar a sociedade de Matinha que ainda pouco tivemos uma reunião no Santero, que foi tratado a questões dos que se intitulam (índios) que, na verdade, são bando de ladrões, invasores de propriedades alheias, eles estão metendo terror na comunidade de são Miguel próximo ao santeiro, são Pedro ,estrada de Penalva e chulanga estão cortando arame , ameaçando os moradores matando e comendo porco, galinha e gado. Estão querendo realmente se apropriar de todas as propriedades ente Itaquaritiua a Matinha, Santero são Miguel e outras. E, agora, não só as grandes, as menores também, dizendo que vão invadir meter o pânico. Diante disso, estamos também nos organizando, unindo forças pra enfrentar esses ladrões, no dia 30 deste mês, 14:00 horas, terá outra reunião pra tratarmos desse assunto. Quem tiver interesse compareça, vamos nos unirmos pra defender o que é de direito seu. Hoje somos nós e amanhã poderá ser você. Não estamos livres desses bando de ladrões que se intitulam índios. Compareça e divulgue a reunião acontecerá dia 30 deste mês no Santero, às 14:00 horas”.
Tribunal de Justiça
A Secretaria de Direitos Humanos do Maranhão informou que vai destacar uma equipe para investigar o caso e ouvir os indígenas transferidos para São Luís. De acordo com a secretaria, o governo do estado está agindo para garantir a segurança na área.
Esta não é a primeira vez em que os gamelas são alvo de ataque. Nos dois últimos anos, foram registradas duas tentativas de ataques a tiros, mas os suspeitos foram expulsos pelos indígenas.
Em 2016, o Tribunal de Justiça do Maranhão suspendeu a integração de posse da área. O pedido foi solicitado por um empresário da região e aceito pelo juiz local.
Ministério
O Ministério da Justiça e Segurança Pública disse que está “averiguando o ocorrido envolvendo pequenos agricultores e supostos indígenas no povoado de Bahias, no Maranhão”. Por determinação do ministro Osmar Serraglio, a Polícia Federal já enviou uma equipe para o local para evitar mais conflitos e ofereceu apoio à Secretaria de Segurança Pública que, por sua vez, já instaurou inquérito para investigar o caso.
Procurada pelo Canal Rural, a Funai se pronunciou apenas nesta terça-feira, dia 2. Segundo a entidade, “a Coordenação Regional de Imperatriz já está mobilizada tomando todas as providências necessárias no caso. A procuradoria da Funai está em contato direto com o delegado do município de Viana, e nossos servidores acompanharão em loco o inquérito a partir desta terça-feira. Também será formado pela manhã um comitê de crise com os diretores e o presidente da Funai para prestar toda a ajuda necessária aos feridos e garantir o cumprimento da lei.”