Tomate BRS Imigrante tem potencial de cultivo no Brasil

Variedade foi desenvolvida como resposta a um fungo de solo causador de estragos em  duas das principais regiões produtoras 

Fonte: Roberta Silveira/Canal Rural

Uma solução tecnológica para uma demanda emergencial mudou, a partir de 2015, o panorama do cultivo de tomate de mesa no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, ameaçados por uma nova doença que ainda não existia no Brasil desde então – a murcha de Fusarium raça 3.

A enfermidade é causada por um fungo de solo que pode entrar em novas áreas de cultivo através de sementes e maquinaria contaminadas. A murcha de Fusarium raça 3 vinha provocando um grande estrago nas principais regiões produtoras desses dois Estados, requerendo a substituição de variedades já adaptadas uma vez que todas se mostraram altamente sensíveis à doença.

O contraponto a essa situação foi o desenvolvimento de um novo material, o híbrido ‘BRS Imigrante’, lançado pela Embrapa Hortaliças (Brasília, DF) em 2014, com tolerância às três raças do fungo Fusarium oxysporum f. sp. lycopersi. 

Atualmente, o BRS Imigrante é destaque no Espírito Santo no segmento de produção de tomates do tipo salada e vem apresentando excelente desempenho em cultivos conduzidos em Venda Nova do Imigrante, São Roque e Colatina (ES), e em Paty do Alferes (RJ) e no Distrito Federal. “O interessante desse híbrido é que ele vem apresentando um ótimo desempenho também em áreas onde não há a presença do fungo, como no município de Caçador, em Santa Catarina, e em Goiás”, descreve o pesquisador Leonardo Boiteux, coordenador do programa de melhoramento genético de tomate.

Entre as características do BRS Imigrante, além da resistência às três raças do fungo, ele destaca a firmeza e o tamanho dos frutos, o sabor adocicado (o teor de sólidos solúveis situam-se em torno de 4.5º brix) e pela vida útil pós-colheita. De acordo com o pesquisador, geralmente os tomates com alta resistência às variantes do Fusarium apresentam frutos moles e com pouca durabilidade após serem colhidos, o que não ocorre com o BRS Imigrante. Mas não terminam aí as qualidades do material, que é destaque ainda no quesito da produtividade.

Segundo Boiteux, a cultivar tem crescimento determinado, o que facilita a colheita, uma muito boa colheita, por sinal. “Em experimentos conduzidos em cultivo protegido na região do Distrito Federal, e em campo aberto em Pelotas (RS) e em Venda Nova do Imigrante (ES) apresentou potencial produtivo de até 480 caixas de 25 kg por 1000 plantas – em média, 12 kg planta”.

Etapas da pesquisa

A demanda vinda do Espírito Santo constituiu o primeiro passo das pesquisas conduzidas pela Embrapa Hortaliças, em parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), representado pelo pesquisador Hélcio Costa, que registra a excelência do híbrido ao sublinhar que o BRS Imigrante “superou as expectativas, ao apresentar níveis elevados de resistência em todos os ensaios instalados em áreas contaminadas pelo Fusarium raça 3”.

No âmbito da Unidade da Embrapa, o trabalho recebeu a contribuição do pesquisador Ailton Reis, da área de Fitopatologia, que atuou na seleção de fontes de resistência, resultando no desenvolvimento de linhagens avançadas com características bastante promissoras ante a virulência do fungo. Outra vantagem do ‘BRS Imigrante’ para o Espírito Santo é sua a resistência aos begomovírus (transmitidos por mosca-branca) e a mancha foliar de Stemphylium que, recentemente, se tornaram grandes problemas na região, diz Boiteux.

Por se tratar de um patógeno de solo, o uso de produtos químicos não garante o seu total controle, daí a importância de procurar desenvolver híbridos resistentes, como o BRS Imigrante, que proporcionam a redução dos custos de produção, além de outras características que reforçam o seu diferencial com relação a outras cultivares de tomate tipo salada. Outra vantagem é que os níveis de resistência são tão altos que o produtor pode novamente utilizar o solo infestado com o patógeno, evitando a assim necessidade buscar e/ou abrir novas áreas de cultivo protegendo o meio-ambiente.

Sementes

O BRS Imigrante foi desenvolvido por meio de contrato de cooperação técnica entre a Embrapa e a Empresa Agrocinco, em conformidade com os termos da Lei nº 10.973 e do Decreto nº 5.563 que dispõem sobre incentivos à inovação e garantem exclusividade de comercialização de sementes por empresas financiadoras das pesquisas. Dessa forma, os interessados em adquirir sementes dessa cultivar devem entrar em contato com a Agrocinco pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (19) 3879-6787.