A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) avalia que o setor sucroenergético nacional poderá deixar de exportar 800 mil toneladas de açúcar para a China nos próximos 12 meses. O período coincide com a vigência da taxa de importação de 95% no país asiático, que tomou essa decisão no âmbito da investigação de salvaguarda movida desde o ano passado. A entidade esperava que as vendas para a China, principal comprador da commodity brasileiro, alcançasse cerca de 3 milhões de toneladas, volume que pode cair, portanto, para perto de 2,2 milhões de toneladas.
“Fizemos uma análise preliminar e esse é o impacto potencial”, disse nesta segunda-feira, 22, o diretor executivo da Unica, Eduardo Leão de Sousa, em teleconferência com jornalistas. Conforme ele, as compras totais chinesas nos próximos 12 meses podem diminuir em 28%, de aproximadamente 6 milhões para 4,5 milhões de toneladas. “A China pode atirar em um alvo e acertar outro, que é estimular o contrabando de açúcar. O mercado estima que só neste ano contrabando já supera 2 milhões de toneladas”, alertou.
Atendendo a reivindicações do setor produtivo local, a China iniciou em setembro do ano passado uma investigação sobre as importações de açúcar no período de janeiro de 2011 a março de 2016, quando as compras desse produto cresceram 663%. Nesta segunda, o Ministério do Comércio local afirmou que as compras prejudicaram gravemente a indústria do país. Assim, a partir de agora, a taxa que incide sobre as compras externas além da cota de 1,945 milhão de toneladas por ano vai ser elevada de 50% para 95%.
Depois de um ano, a taxa vai cair para 90%; em dois anos, para 85%. Entretanto, o imposto sobre o açúcar dentro da cota permanecerá em 15%. “Nada garante que o chineses, depois desses três anos, não vão prolongar a taxa de importação maior”, destacou Leão de Sousa, lembrando que medidas de salvaguarda podem ser usadas por até oito anos.
Conforme o executivo, o Brasil vem, desde o início, afirmando que não existem elementos suficientes para se caracterizar um surto de importação na China e, consequentemente, para se aplicar mecanismos de salvaguarda.
“Estamos agora avaliando os próximos passos. Estamos examinando com os chineses a possibilidade de se mitigar os impactos de uma medida dessa natureza. O governo brasileiro ainda espera que a China se sensibilize a respeito”, concluiu Leão, descartando, ao menos por ora, a possibilidade de um painel de contestação na Organização Mundial do Comércio (OMC).