Feijão-carioca: aumento nos custos desanima produtores de Mato Grosso

Além de preços não cobrirem gastos da cultura, rentabilidade tem sido afetada pela desorganização do mercado do grão

Fonte: Sebastião José de Araújo

Produtores de feijão-carioca de Mato Grosso estão desanimados com a cultura. Além dos altos custos de produção, a desorganização do mercado tem afetado diretamente a rentabilidade. 

Lucas Costa Beber, por exemplo, investiu em irrigação neste ciclo, mas ainda assim teve problemas com o clima. Há poucos talhões de terminar a colheita, ele afirma que as noites mais quentes durante este ano afetaram as plantas, que não estariam apresentando grãos tãos pesados. “No ano passado, a gente estava com média por volta de 50 sacas (por hectare); neste ano, são quarenta sacas”, diz.

Outra preocupação do produtor, que planta feijão-carioca há três anos, é com a comercialização dos grãos. Segundo Beber, o valor que tem recebido pela saca sequer cobre os custos de produção. Ele conta que o custo mínimo de uma lavoura irrigada é de cerca de R$ 4.500 por hectare. Com a saca de feijão a R$ 100 e produtividade de 40 sacas por hectare, ele teria um faturamento bruto de R$ 4.000, prejuízo de R$ 500 por hectare. “O mercado está péssimo para feijão, não está cobrindo os custos do produtor, que está tendo que tirar das outras culturas para poder cobrir a quebra do preços”, diz ele.

O desânimo também atingiu o agricultor Juliano Ferri. Ele foi outro que resolveu irrigar a lavoura, mas não conseguiu cobrir o investimento. Segundo Ferri, ele começou a vender a saca a R$ 275, mas atualmente o mercado oferece R$ 75 no feijão estocado. “Abaixo de R$ 150, é prejuízo, não fecha o custo de sequeiro, que é de R$ 1.800 no mínimo”, diz. 
 
O produto acabou de colher 420 hectares e aguarda a germinação em pelo menos mais 200. O mercado instável têm feito Ferri repensar o plantio da safrinha, quando gostaria de elevar a área. 
 
“Hoje, no feijão, ninguém conhece exato quantos hectares são plantados no Brasil, ninguém sabe na verdade as médias que estão sendo colhidas, tudo é baseado em especulação, fora os aventureiros que entram e plantam um ano e saem fora, o que acaba estragando o mercado prejudicando o produtor tradicional”, queixa-se. 
 
Ferri também critica a chamada Bolsinha, referência de preços para Mato Grosso. “O negociado nela é muito pouco, e os produtores sofrem uma influências de preços de pessoas desconhecidas, sem ter realmente os números exatos de mercado de produção”.

Desorganização do mercado

Para a maioria dos produtores mato-grossenses, a safra difícil está diretamente ligada à desorganização do mercado, sem um preço mínimo suficiente para bancar os custos de produção. Lucas Beber afirma que não há contrato no mercado futuro para a cultura. “Você só vende no momento em que você tiver na mão, o que gera mais dificuldade, porque planta-se sabendo do custo, mas não se lá no final vai ter lucro ou prejuízo”.

Beber até pensa em abandonar o feijão-carioca na próxima safra, lembrando que, nos últimos quatro anos, só só houve pico de preços para o grão. “A tendência é buscar uma cultura nova para irrigação, porque feijão-carioca não compensa”, diz.

Juliano Ferri espera por um preço mínimo pelo menos entre R$ 120 e R$ 150 para tornar a cultura rentável. “E também ter mais armazéns credenciados para receber esses produtos. Em nossa região, a gente acaba tendo que vender direto para terceiros”.