A crise do setor leiteiro no país está longe de ter um fim, mas barrar as importações não é uma alternativa eficaz, de acordo com o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi.
Em entrevista ao programa Direto ao Ponto deste domingo, dia 26, ele apontou que o governo brasileiro precisa intensificar as fiscalizações dos produtos que entram pelas fronteiras e trabalhar pela abertura de novos mercados para os lácteos nacionais. Dessa forma, os produtores daqui podem vender mais e equalizar melhor os preços.
“A CNA defende sempre que o produtor tem que ser resguardado de práticas desleais de comércio. Tem que haver rigor maior na fiscalização. No caso do leite, sabemos de produtos que são exportados para o Brasil com prazo de validade em cima, pra vencer em poucos dias, e aqui recebem uma nova embalagem e há uma prorrogação desse prazo, há boatos. O que a CNA fez é exigir que haja uma intensificação nesse processo de fiscalização”, declarou.
Ele também destacou fatos parecidos para produtos como trigo e arroz, que têm oferta e demanda muito ajustada no país e têm os preços fortemente impactados por qualquer mudança no cenário econômico.
“No Brasil é proibido dessecar lavoura de trigo com glifosato. Na Argentina e no Paraguai, não. E a gente importa esse trigo que tem resíduos de glifosato. Teria que ter rigor muito maior. Exigimos do governo brasileiro que haja equiparação dos protocolos sanitários. É o que acontece com nosso produto quando vai pra Europa”.
Outra crítica de Bruno Lucchi é em relação ao método utilizado pelo varejo e que influencia nos preços pagos ao produtor de leite. “Por mais que haja redução na renda da população, ela não para de tomar leite. E o leite é chamariz dos supermercados. O que chama a promoção é o litro de leite. Isso causa um caos geral, porque aquele produto em promoção deprime os outros concorrentes que são obrigados a reduzir. Leite é um produto estratégico para o supermercado, mas que prejudica a indústria e principalmente o produtor rural, que é o mais afetado nesses casos. Se o produto industrializado chegou perto de R$ 1, imagina o que o produtor está recebendo”, questionou ele.
Acordo Mercosul x UE
O superintendente técnico da CNA avaliou as negociações para o acordo entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia. Discutido há vários anos, ganhou força recentemente e deve ser finalizado em breve. Para Bruno Lucchi, ele é estratégico para o agronegócio brasileiro, que pode exportar diversos produtos de forma vantajosa e a preços bons.
Mas há desafios no processo. Os europeus ofereceram cotas consideradas ínfimas pela entidade, como para carnes, açúcar e etanol. “A cota de carne é ínfima, cerca de 1% do consumo da Europa, 60 ou 70 mil toneladas. Queremos 390 mil toneladas, o que corresponde a 3% a 4% do consumo europeu. As cotas de açúcar e etanol são valores insignificantes. Queremos a ampliação de cotas e a defesa de produtos sensíveis brasileiros, como os lácteos”, explicou.
Balanço do ano
Com a proximidade do fim do ano, Lucchi fez uma avaliação de 2017 para o setor produtivo brasileiro. Segundo ele, o período foi marcado por uma recuperação nos números de produção e produtividade de diversas culturas, influenciados principalmente pelo clima, mas a queda nos preços das commodities, o câmbio irregular e o consumo fraco de produtos de valor agregado prejudicaram a rentabilidade do produtor rural.
“O leite, por exemplo, a produção recuperou, com 14% de aumento, mas preços despencaram a valores de dois ou três anos atrás. Recuperamos a produção, com recordes, mas as margens dos produtores não cresceram tanto, ficaram até menores em alguns casos. O consumo de iogurte é igual ao ano de 2008, para ver como regredimos. Algumas frutas com valor agregado maior tiveram redução de consumo. Vários fatores prejudicaram o produtor a não ter recuperação significativa”.