Mesmo sendo usados com frequência na culinária brasileira, o alho e a cebola não são tão consumidos no país como é em outros lugares do mundo. De acordo com o presidente da Associação Nacional de Produtores de Alho (Anapa) e Associação Nacional de Produtores de Cebola (Anace), Rafael Corsino, enquanto cada brasileiro come em torno de 1,5 kg do produto por ano, os chineses consomem de 8 a 10 kg.
“Nosso consumo é um dos mais baixos. Então, existe um espaço muito grande para se trabalhar em cima dos benefícios que a cebola e o alho trazem, indo além da culinária”, revela Corsino, entrevistado do Direto ao Ponto desta semana. O presidente de ambas as entidades explica que falta divulgação da cadeia, promoção da imagem e investimento em publicidade positiva do produto brasileiro.
Para tanto, segundo Corsino, os produtores precisam ter consciência e contribuir com as associações, para que as ações não sejam interrompidas. “Quando entra gestão financeira, é o gargalo. Nós temos que abortar atividades para ajudar o próprio produtor no meio do caminho. Por isso eu lanço o desafio para os produtores de alho e cebola para colaborarem financeiramente com a entidade, para que possamos gerar influência, para ajudarem vocês no campo”, reforça.
Este não é o único problema para o alho e cebola. “Se a gente pegar dez, vinte anos atrás, os ministros que passaram pela agricultura não tiveram conhecimento da cadeia de horticultura. Todos têm vontade de ajudar, mas todos vêm se arrastando sem aprofundamento. Nós precisamos junto com o governo fazer um projeto a longo prazo”, explica Corsino.
Para ele, além da união dos produtores, é necessário que o governo compreenda as dificuldades do setor e ajude-o a crescer. “Há uma competição desigual com os outros países, onde as taxas de juros são menores e há menos tributação. Os competidores externos têm todo o aparato e ajuda governamental. E aqui, nós não temos. Temos tudo contra a produção”, diz. O entrevistado explica a afirmação exemplificando com o alho.
De acordo com ele, o principal problema é a importação por liminares, para não se pagar a tarifa antidumping. Desde 1966, o país estabeleceu um valor de pagamento sobre o alho que chega ao Brasil, a fim de que não venha com o valor muito abaixo do custo de produção nacional. Mas muitos importadores desde então entraram na justiça e importam, sem pagar a taxa, por meio de liminares judiciais.
“Só esse ano, nós colocamos mais de 155 ofícios nas Instituições Públicas para resolver o problema de importação ilegal e até agora não foi resolvido. Nós oficiamos o Ministério da Agricultura, a Receita Federal, Ministério da Indústria e Comércio através do Comércio Exterior. Nós falamos com a Advocacia Geral da União.”
Além disso, Corsino reitera que até no Mercosul o Brasil enfrenta problemas porque os países do bloco têm condições mais facilitadas de produção. “Como vamos competir se eles têm acesso a um produto bem mais barato que o nosso e a gente não pode ter acesso? Existem distorções que o governo brasileiro precisa resolver dentro do próprio bloco. Não adianta usar um produto para não dar broto na cebola, por exemplo, na Argentina e aqui ser proibido. Daqui a pouco o bloco libera a exportação de cebola que usa esse antibrotante e aqui não pode. Isso faz reduzir custo, nós não temos uma igual competição”, explica.
A questão dos defensivos é outro entrave. Segundo Corsino, muitos produtos não têm registro e acabam prejudicando o produtor. “Nós temos dificuldade de ter inseticida registrado em várias cadeias, como na cebola, batata, cenoura. De um lado, as multinacionais não têm interesse para pouco volume. Do outro, a burocracia é muito grande.”
No entanto, Corsino é otimista e acredita no fortalecimento da cadeia, tanto pelo lado do setor quanto do governo. “Se somar todas as hortaliças, passamos a assumir a quinta cadeia do PIB. E em termos de mão de obra, ofertamos mais emprego que do que as commodities”, fala.
Para isso, a solução é investir na qualidade do produto brasileiro, incentivar o aumento do consumo e diminuir os entraves do mercado. Segundo ele, enquanto o governo não resolve o que precisa ser resolvido, a união precisa vir do setor. “Nós fizemos um trabalho numa universidade federal e nós comprovamos que o alho brasileiro tem cinco vezes mais compostos nutracêuticos e mais sabor que o alho chinês. Temos de valorizar o que produzimos aqui.”