O governo autorizou a prorrogação das dívidas de custeio e investimento dos produtores de leite para evitar uma crise ainda maior no setor, mas nem todo mundo está conseguindo fazer essa renegociação, apesar de o Ministério da Agricultura garantir que a medida está valendo e o prazo para o pecuarista fazer a renegociação vá até o dia 29 de dezembro.
Na propriedade de Rivaldo José Gonçalves, o clima seco foi o responsável pela queda na produção de leite e pela dificuldade em fechar no positivo. O produto que antes era vendido por R$ 1,65 centavos cada litro, neste final de ano era negociado por 0,83. “O preço caiu muito esse ano e os custos se elevaram, principalmente com a questão da seca, onde tivemos que manter as vacas durante sete meios e meio comendo no cocho”, disse.
Com isso, o produtor fez as contas e observou que fecharia o ano no vermelho. “Não entra na minha cabeça que, no Brasil, seja preciso buscar leite no Uruguai. No meu caso, por exemplo, seria como se eu fosse comprar leite no meu vizinho, mesmo produzindo na minha fazenda. Essa atitude do governo só serve para arrebentar com o preço interno e com os produtores”, falou.
Diante deste cenário, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, prometeu aos produtores de leite, em novembro, uma prorrogação do prazo das dívidas de custeio e investimento no setor, como explica o diretor de Crédito e Estudos Econômicos do ministério da Agricultura, Wilson Vaz.
“Essa prorrogação contempla os débitos de custeio e parcelas de investimento, incluindo os que já foram objeto de prorrogações anteriores, com vencimento em 1 de março de 2017 e 31 de dezembro de 2017. O produtor que decidir por essa prorrogação terá que se manifestar junto a um agente financeiro o interesse até o dia 29 de dezembro.”
Alguns pecuaristas, no entanto, entraram em contato com o Canal Rural alegando que os bancos não estão sabendo da medida. O Banco do Brasil informou, em nota, que a medida estará vigente só até o final deste mês e que os pecuaristas que necessitarem renegociar a dívida deverão procurar sua agência para encaminhar o pedido de prorrogação. De acordo com a instituição, serão beneficiados cerca de 380 mil clientes.
“As instruções foram repassadas às agência há cerca de 30 dias, mas não posso assegurar que todas as agências internalizaram essa instrução. Mas, até onde a gente tem conhecimento, na sexta-feira conversamos com o Banco do Brasil e todas as suas unidades operacionais estão com essas instruções e aptas a fazer essas prorrogações que forem solicitadas”, completou Wilson.
A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) diz que recebeu reclamações de produtores de todo o Brasil nos últimos dias. “Nós entramos em contato com o Banco do Brasil e eles disseram que as agências estão ou serão informadas nos próximos dias e que, se surgir algum tipo de dúvida específica em alguma cidade ou no país, os produtores poderão tratar diretamente com os gerentes daquelas agências”, comentou Geraldo Borges, presidente da Abraleite.
Já o produtor Rivaldo, que conhecemos no começo desta reportagem, irá até uma agência bancária ainda nesta semana para tentar renovar a dívida de custeio e tentar prorrogar o prazo. “Estamos com esperança de melhorar a situação e essa possibilidade ajudaria bastante”, concluiu.