Leite: aposta do setor em 2018 está na exportação

Crise econômica baixou poder de compra da população em 2017, afetando o consumo de lácteos e baixando as cotações do produto; esperança da pecuária leiteira está agora no mercado externo

Fonte: Pixabay

Com queda no preço do leite mês após mês, os produtores viram a remuneração chegar ao limite em 2017. O principal motivo das baixas cotações é que a crise econômica teve reflexo direto no poder de compra da população – ao longo do ano, os consumidores muitas vezes simplesmente não conseguiram comprar leite e seus derivados.
 
Demanda enfraquecida é o termo que caracterizou o setor de leite em 2017, segundo a pesquisadora Natália Grigol, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). “O consumidor está racionalizando melhor os gastos e comprando menos produtos que não são tão essenciais, caso dos lácteos, que só têm elevação de consumo se aumentar a renda ou se diminuir o preço, que é a situação atual”, diz ela.
 
No final do primeiro semestre, o recuo do preço pago pelo litro do leite no país atingiu 35%, em boa medida também em consequência do aumento da oferta na região Sul, que cresceu cerca de 14% nos seis primeiros meses de 2017 na comparação com o ano anterior. Com isso, as margens de lucro continuaram diminuindo no segundo semestre. 


Para piorar a situação dos pecuaristas de leite, o custo de produção voltou a subir. Sobretudo os gastos com concentrado, milho e soja, de acordo com o assessor técnica da Comissão de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Thiago Rodrigues. 
 
Na pecuária leiteira, a dieta do rebanho representa até 70% dos gastos totais. Pequenos produtores, que têm menores condições de realizar aquisições estratégicas de insumos, foram os que mais sofreram. No final do ano, em plena entressafra, o litro do leite em Mato Grosso chegou a custar cerca de R$ 0,80.

Uruguai

Em meio à crise interna, os produtores brasileiros se revoltaram contra o Uruguai, importante parceiro comercial no segmento. Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostram que o Brasil comprou, ao longo deste ano, 86% da produção de leite em pó desnatado uruguaio e 72% do integral. 
 
Atendendo a uma demanda do setor, em outubro o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, decidiu suspender a importação do produto do Uruguai. A suspeita era de que o país estava exportando mais leite do que produzia, o que poderia sinalizar que o país vende ao Brasil leite comprado de outras origens.
 
Em novembro, o governo brasileiro anunciou não ter encontrado sinais de triangulação do produto e precisou retomar as importações. Sem esperança do fim das compras do Uruguai, produtores desejam que, no próximo ano, consigam transformar importações em exportações.

Mercado externo
 
De acordo com Jônadan Min Mao, diretor do grupo Ma Shou Tau, que detém uma das maiores produções leiteiras de Minas Gerais, há muito interesse pelo leite brasileiro no exterior, principalmente de países da América Latina, África e Sudeste Asiático.

“Recebemos muitas delegações desses países de clima tropical. Este foi um ano em que se importou muito leite, mas tem que se trabalhar para a exportação, também de derivados. O Brasil tem que se abrir para o mercado externo”, diz o diretor.

Para 2018, o setor leva a necessidade de derrubar barreiras sanitárias para que animais, material genético e a própria matéria-prima sejam exportados por alguns países. Além disso, os pecuaristas também desejam para o próximo ano menos oscilações na cotação do leite, com a definição de um preço mínimo.
 
Atualmente, o valor do leite é balizado de forma geral pelas informações repassadas pelas indústrias, que, muitas vezes, acabam deixando de lado a qualidade do produto.
 
Para além dos fatores internos e externos, especialistas no segmento recomendam muito planejamento para o próximo ano. A zootecnista e gerente do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ Leite), Mariana Alencar, afirma que planejar a compra de insumos é uma ferramenta para o pecuarista reduzir custos e não ficar à mercê do preço recebido pelo leite. “Senão, a margem de lucro dele vai ficar muito condicionada e frágil”, diz.
 
Outra situação que deve precisa ser abordada pelo setor é o pagamento pela qualidade do leite, e não apenas pelo volume, afirma a zootecnista. “Será que o produtor tem recebido por qualidade do leite? Porque é uma forma de agregar valor ao leite e a indústria também sair ganhando, por isso ela tem que repassar ao produtor”, afirma Mariana Alencar.