Leite: preço médio em janeiro atinge o menor valor em 8 anos

Segundo o Cepea, a cotação paga ao produtor caiu quase 20% em relação ao mesmo período do ano passado

Fonte: Alcides Okubo Filho/Embrapa

Contrariando as expectativas do mercado, o preço do leite recebido pelos produtores em janeiro caiu 1,74% na comparação com o mês anterior, chegando a R$ 0,9832 o litro na “média Brasil” líquida, que inclui preços sem frete e impostos da Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), na comparação com janeiro do ano passado, o recuo é de quase 20%, sendo a atual média a menor desde fevereiro de 2010, quando foi de R$ 0,9369 (valores deflacionados pelo IPCA de dezembro de 2017).

Houve diminuição nos preços médios de todos os estados acompanhados pela entidade – com exceção de Santa Catarina, que apresentou alta de 1,34% de dezembro para janeiro, devido ao menor volume captado. Dentre os estados, a maior queda foi observada em Minas Gerais, de 2,93%, seguida por Goiás, com baixa de 2,80%, São Paulo (-1,89%), Bahia (-1,79%), Paraná (-1,16%) e Rio Grande do Sul (-0,46%).

Fraca demanda e aumento da captação
Segundo o Cepea, a desvalorização do leite no campo esteve atrelada à baixa demanda na ponta final da cadeia, que continua enfraquecida, e que, por isso, tem limitado os volumes de negociações entre indústrias e atacados/varejos. O consumo interno segue abalado pela perda do poder de compra do brasileiro em função do período de recessão econômica.

Vale lembrar que a demanda pela maioria dos lácteos é afetada mais do que proporcionalmente pela variação na renda da população. Além disso, o período de fim de ano e de férias escolares é, tipicamente, considerado uma época ruim para a comercialização de lácteos.

Outro fator que também pressionou as cotações foi a alta da captação em muitos estados, em decorrência do maior volume de chuvas. O aumento na captação em dezembro frente ao mês anterior no Paraná foi de 5,86%, na Bahia, de 1,87%, em Minas Gerais, de 1,39% e, em São Paulo, de 0,51%.

Já em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás, a captação recuou 3,37%, 2,65% e 2,22%, respectivamente, em função do desestímulo do produtor diante das baixas cotações. Segundo colaboradores, muitos produtores já deixaram a atividade, enquanto outros têm aumentado o abate de vacas e investido menos na produção. Esses resultados levaram a um ligeiro aumento de 0,23% do Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) de novembro para dezembro.

Cenário
Os agentes do mercado consultados pelo Cepea consideram a situação do setor crítica, o que impõem difíceis desafios na gestão dos negócios, tanto para produtores quanto para indústrias. Ainda que os indicadores macroeconômicos indiquem a continuidade da recuperação econômica, a resposta do consumidor diante das gôndolas é lenta, o que tem dificultado a previsão do comportamento do mercado.

Tendência
Para fevereiro, a maior parte do mercado acredita em estabilidade nas cotações do produtor. Um dos fatos que fundamenta essa expectativa é o comportamento dos preços do leite UHT (como este é o lácteo mais consumido do país, há grande correlação com os preços praticados no campo).

De acordo com as pesquisas do Cepea, o preço do UHT negociado no atacado do estado de São Paulo registrou alta acumulada de 3,53% em janeiro. No entanto, a valorização do UHT não refletiu melhora da demanda, mas, sim, a tentativa de estabilizar o mercado e recuperar a margem perdida sobre os custos de produção das indústrias.