Vendas de gado de origem britânica para fora do RS trazem mais rentabilidade a pecuaristas do Estado

Mais vantajoso a produtores, fenômeno preocupa a indústria gaúcha, que não consegue oferecer mais pelo produtoAs vendas de gado de origem britânica para fora do Rio Grande do Sul triplicaram nos últimos cinco anos. Os exemplares saem do Estado para serem engordados e abatidos no exterior ou em outras regiões do Brasil. O novo fenômeno é mais rentável aos produtores, mas preocupa a indústria gaúcha.

Uma propriedade em Minas do Leão, na região Central do Rio Grande do Sul, especializada na criação de animais cruzados com a raça angus, encontrou há cinco anos uma alternativa para obter mais lucro na comercialização de novilhos. Segundo o administrador da fazenda, mais de mil cabeças já foram embarcadas para o exterior, com destino a países como Líbano, Egito e Turquia. Pelos animais entre 350 e 400 quilos, os importadores oferecem, em média, de 10% a 15% acima do valor de mercado, com pagamento à vista.

– Se torna um bom negócio vender pro navio, no nosso caso, porque eles pagam um preço de animal gordo pra um animal que não está acabado ainda. Hoje é vantajoso dentro do nosso sistema, esse ano chegaram a trabalhar com R$ 3,70 no quilo – afirma o pecuarista Vinícius Oliveira.

As vendas de gado em pé para fora do Rio Grande do Sul cresceram 165% em 2012. Foram quase 100 mil animais embarcados para o exterior, e também para o Estado de São Paulo.

Comercializar animais antes da fase de terminação, para serem confinados na região Sudeste, também tem se tornado um bom atrativo para os produtores gaúchos. Os exemplares de origem britânica, como angus, hereford ou cruzas com essas raças, são enviados para um confinamento em Guaiçara, no interior paulista, e participam de um programa de cortes nobres, do maior grupo frigorífico do mundo.

Pioneiro na criação braford, com mais de 45 anos de experiência na raça, Rubens Vasconcelos deixou de engordar os animais há dois anos para vender ao programa.

– Meu engorde aqui seria inviável, devido ao baixo preço que está o bovino gordo. Então, pra nós, é mais interessante vender para São Paulo, com preço até um pouco melhor, pra um gado que está em meio estado, não está ainda gordo – diz o pecuarista.

Preocupação na Indústria

Apesar de representar apenas 5% dos animais abatidos no ano passado, a saída desses animais do Estado não agrada os frigoríficos gaúchos, de acordo com Zilmar Moussale, diretor do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs).

– Preocupa porque nós temos uma capacidade instalada aqui de 3,5 milhões de animais. A indústria está organizada pra abater isso anualmente, e o máximo que se conseguiu abater foi em 2006, 2,2 milhões de animais. No ano passado se abateu dois milhões, então nós temos uma grande defasagem, a indústria está aparelhada e capacitada para abater um certo número de animais e não consegue preencher nunca a escala – afirma o diretor da entidade.

De acordo com Moussale, a indústria não tem como competir com os importadores e pagar mais pelo produto.

– Quando esses importadores vêm buscar os animais, os compradores vão à propriedade e escolhem a dedo o que eles querem levar, então eles levam a nata da propriedade e pagam mais por isso. Aquilo que sobra na fazenda, na propriedade, o produtor quer que a indústria pague o mesmo preço que ele conseguiu para exportação, querem balizar esse preço. A indústria não pode estar pagando mais também porque, na ponta, o consumidor não paga mais, a carne está com um preço complicado – analisa o dirigente da Sicadergs.

Fernando Velloso, consultor de pecuária, acredita que o fenômeno seja reflexo da falta de planejamento de alguns produtores.

– Eu vejo como um sintoma de que nós não estamos preparados no Rio Grande do Sul pra aproveitar bem esse produto. Podia estar sendo usado em programas de qualidade, podia gerar resultados à carne gaúcha e hoje está sendo um resultado limitado a um segmento. De forma alguma levanto nenhuma bandeira pra restringir esse movimento, mas que nos sirva pra tomada de decisão, planejamento estratégico do que fazer pra buscar uma mudança dessa situação – afirma o analista.

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