Como fica o mercado com a fusão Bayer e Monsanto?

Para responder a esta pergunta, o Canal Rural conversou com especialistas e entrevistou com exclusividade o responsável pela divisão de Agricultura da Bayer no Brasil

Fonte: Bayer AG/divulgação

Falta pouco para a concretização do negócio que deve criar a maior empresa de sementes e defensivos do mundo. A compra da Monsanto pela Bayer já foi aprovada no Brasil, mas ainda faltam Estados Unidos e União Europeia darem o aval para a aquisição de US$ 66 bilhões. Para entender como fica o mercado daqui para frente com esta nova gigante, o Canal Rural conversou com especialistas e entrevistou com exclusividade o responsável pela divisão de Agricultura da Bayer no Brasil.

Há 32 anos na Bayer, Gerhard Bohne assumiu a divisão de Agricultura da empresa no Brasil cerca de um ano atrás. Ele recebeu a missão de preparar a multinacional para uma nova fase, com a fusão da empresa alemã com a norte-americana Monsanto.

“No momento, as duas empresas são totalmente independentes. E atuam no mercado de forma independente”, diz Bohne, que é diretor de operações da Bayer Crop Science Brasil.

O executivo afirma que o fechamento do negócio vai acontecer em breve: “As negociações estão muito positivas. A previsão é o fechamento agora no segundo trimestre deste ano. A gente está prevendo o fechamento e a fusão entre as duas empresas”.

Grandes empresas do agronegócio mundial têm unido forças nos últimos anos. Em 2015, as norte-americanas Dow chemical e Dupont anunciaram acordo de fusão. A integração começou no ano passado e vai dar origem à nova empresa Corteva Agriscience.

Em 2016, a estatal chinesa ChemChina fez a proposta para aquisição da suíça Syngenta, e o negócio também foi finalizado no ano passado. A Syngenta vai continuar como uma empresa independente.

A Bayer anunciou a compra da Monsanto por US$ 66 bilhões, em setembro de 2016. De lá pra cá, a concretização do negócio depende da aprovação dos órgãos reguladores dos países em que as empresas atuam. No brasil, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a aquisição com restrições no mês passado. O Cade apontou problemas de concorrência nos mercados de sementes de soja e algodão transgênicos. Por isso, o órgão aceitou a proposta de que a Bayer venda parte dos negócios para a basf. As empresas ainda esperam pelas aprovações de Estados Unidos e União Europeia.

“são 5,9 bilhões de euros que a basf vai pagar pelo negócios de sementes da bayer.” + “foi sinalizado logo de início que realmente a nossa área de sementes de algodão, de soja, o glufosinato e a tecnologia liberty link nós provavelmente teríamos que desinvestir. preventivamente, nós já saímos do mercado, nós vamos desinvestir para facilitar as negociações com as autoridades.”

Bayer e Monsanto devem trabalhar paralelamente por alguns anos até a criação de uma só empresa, que ainda não tem nome definido. O Brasil vai ser o segundo maior mercado da nova companhia, atrás dos Estados Unidos. Além dos mercados tradicionais de sementes e agroquímicos, a nova companhia deve investir em outras áreas.

“A agricultura digital, a agricultura de precisão, que pra mim vai ser o grande diferencial do futuro. Para otimizar o uso dos insumos, características de clima, para você produzir mais. As duas empresas dão hoje um investimento de 2,5 bilhões de euros em novas tecnologias para a agricultura”, afirma Bohne.

O negócio, que deve criar a maior empresa de sementes e defensivos do mundo, tem sofrido críticas. A concorrência desigual é a principal delas.

“Existem vários segmentos do agronegócio, várias culturas que podem ser afetadas. A exemplo do milho no Sul do país, onde a Bayer tem uma presença muito forte em defensivos, e a Monsanto, em sementes. A pergunta que se faz aos produtores de milho, especialmente do Sul, é como vai ficar. Se essa concentração não vai dar um poder de barganha muito forte na mão de um único player, enquanto eles trabalham com as áreas de sementes e defensivos em separado, diz Carlos Eduardo Dalto, consultor de negociações no agronegócio.

“O produtor poderá ter um aumento de produtividade. Então, as colheitas serão cada vez maiores. Mas isso não vai fazer com que a receita desses produtores aumente. Porque grande parte desse aumento da produtividade no setor agrícola, principalmente na produção de soja, vai ficar nas mãos da Bayer. Porque, vendendo este pacote completo, ela consegue capturar grande parte da renda que seria do produtor e vai ficar para ela”, diz Paulo Dutra, coordenador do curso de ciências econômicas da FAAP.

Outros lados

Monsanto e Basf não quiseram gravar entrevista. As empresas enviaram notas.

Monsanto:

O processo de regulamentação continua a ser conduzido e permanecemos animados com o progresso que estamos fazendo de uma forma geral. Ambas as empresas estão trabalhando com todos os órgãos reguladores para concluir esta análise no início de 2018. Desde a entrega, ainda mais rápida, de novas opções até a expansão das atuais soluções, essa combinação ajudará apoiar os produtores em seus esforços para serem mais produtivos, mais rentáveis e mais sustentáveis.

Basf:

A Basf não irá se pronunciar sobre o tema Bayer/Monsanto.

Em relação à proposta de aquisição do negócio de sementes da Bayer, acreditamos que será um passo relevante para o nosso negócio de proteção de cultivos e nossas atividades de biotecnologia.

Entraremos no negócio de sementes com ativos proprietários em mercados agrícolas chave, o que também nos permitirá levar um pacote tecnológico completo para os nossos clientes.