A safra 2017/2018 da soja vai chegando ao seu final no Brasil, e o Fórum Soja Brasil começa a trazer para os produtores algumas discussões importantes para o planejamento da próxima temporada. Nesta quinta, dia 8, durante a feira Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), as quatro palestras apresentadas discutiram o futuro da política agrícola brasileira, aumento da margem de lucro e métodos de manejo para garantir a renda no campo.
Com a presença do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, foram abertos os trabalhos do dia, com o debate sobre a política agrícola brasileira. O secretário ressaltou que os programas nacionais são bons, e as melhorias esbarram na falta de verba do governo federal.
“Nós temos vários programas para ajudar o setor. Disponibilizamos mais de R$ 192 bilhões para programas específicos, como a armazenagem, com até 15 anos de prazo para pagamento e 3 anos de carência. Se isso não é visão estratégica, não sei o que é”, diz Geller.
Por sua vez, o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ademiro Vian, discordou que a política agrícola brasileira é eficiente, garantindo que ela é ultrapassada e excludente.
“Focando no crédito, nossa política é excludente. Para que a política pública seja eficiente, ela precisa ser universal, ou seja, estar à disposição para 100% do setor ou para a grande maioria. A atual atende no máximo 18% dos produtores brasileiros. É uma política regionalizada, que atende apenas algumas commodities, que está mais preocupada com o setor financeiro do que com o produtivo”, destacou o professor.
A crítica do especialista não para por aí. Para ele, os bancos só oferecem crédito para pessoas jurídicas, cobram garantias absurdas para os pequenos e atendem apenas algumas commodities. “Sem falar na burocracia, vendas casadas e garantias impossíveis de cumprir”, diz. “A prova é que os bancos não têm metas para vender crédito rural. Por isso, o Pronaf foi praticamente banido dos bancos privados.”
Produtividade X lucro
Outra palestra que também abordou o tema financeiro foi a do pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) Mauro Osaki. Ele explicou por que o setor tem vivido tantos altos e baixos na rentabilidade e afirmou que o produtor precisa mudar a maneira de planejar a safra e os ganhos.
“De 2007 até 2011, a rentabilidade do produtor girava em torno de R$ 450 por hectare. Isso mudou de 2012 a 2016, e saltou para mais de R$ 1 mil por hectare, fazendo com que muitos produtores acreditassem que essa seria a nova realidade. Só que em 2017 e neste ano, os patamares de rentabilidade voltaram para os registrados antes de 2012. Isso tudo não teve uma única causa, claro. E é preciso entender o que aconteceu”, diz Osaki.
Independentemente do momento econômico que o setor enfrenta, Osaki ressalta que o produtor precisa mudar o jeito de projetar a sua safra. “Muitas vezes, a preocupação é ter alta produtividade. E só na colheita se verifica a margem. Mas o ideal é pensar: se eu tiver tal produtividade, qual será a minha margem? Pois não adianta nada produzir 70 sacas com custo de 69 sacas. Isso não faz sentido”, destaca ele. “Em 2010, produziam-se 50 sacas e sobrava mais dinheiro que hoje.”
Manejo para alta rentabilidade
Quase todo produtor brasileiro garante fazer uso da técnica de plantio direto em sua propriedade. Só que a realidade não mostra isso. Durante a palestra que apresentou no Fórum Soja Brasil, o pesquisador da Embrapa Henrique Debiasi mostrou que apenas 10%, ou menos, fazem a rotação de culturas (em vez da sucessão soja/milho/trigo). O resultado? Baixas produtividades, erosões e invasão de pragas e doenças.
Segundo Debiasi, o resultado dessa baixa adoção do sistema em sua plenitude, com a rotação de culturas, mínimo revolvimento do solo e cobertura permanente da superfície, é a quantidade de relatos de erosão em todo o Brasil. “Mesmo em áreas planas isso está acontecendo. O Paraná, que já foi um estado exemplar nos cuidados com o solo, já perdeu essa qualidade, e os casos por lá estão se multiplicando”, ressalta.
Ele garante que isso não é uma suposição ou estimativa, já que as pesquisas comprovaram os ganhos. “Isso não é achismo. Nós testamos tudo, fizemos experimentos, e os resultados foram de R$ 200 a R$ 300 a mais por hectare de lucro. Isso mantendo a soja na safra verão e, no inverno, em vez de fazer apenas o milho, trigo ou pousio [terras que são deixadas para repousar, sem cultivo], coloca-se braquiária ou milheto”, explica.
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