O produtor rural Roberto Losque, de Jundiaí (SP), há 42 anos carrega os mais de cem tipos de fruta que produz e vende na Ceagesp. Ele é a terceira geração de uma família de fruticultores que veio da Itália cultivar em solo brasileiro.
— Foi o meu falecido pai que me deixou e disse o seguinte: Roberto, você quer ser um bom agricultor? Aprenda a conversar com as plantas e isso eu faço até hoje — comenta.
Na chácara onde vive, o produtor testa novas maneiras de produzir para que o solo dê fruta o ano todo, uma forma de atender o consumidor. Como as goiabas no sistema de condução de espaldeira, a siriguela, o caqui e a uva, entre outras. Em anos de experiência entre o campo e a cidade, Losque tem a sensação de mudança na relação entre esses dois mundos.
— Parece hoje que a relação está ficando mais estreita, porque até outro dia o homem da cidade ficava na cidade. Percebe-se uma integração. Por outro lado, está havendo uma consciência maior de que o homem do campo é fundamental para vida dele. Ele pode ficar sem televisão, sem carro, mas sem a comida ele não pode ficar. Para o homem do campo dá uma satisfação imensa saber que a vida na cidade tem uma relação muito profunda com o homem do campo — afirma.
Em São Paulo, no bairro São Matheus, zona leste da cidade, hortas orgânicas estão sendo produzidas.
— Com produtores locais, aqui surgiu essa associação de produtores orgânicos. Um pioneirismo que eles tiveram nesse sentido — diz o engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura, Cristiano Mendes.
Genival Moraes de Faria foi o pioneiro dos horticultores da Associação de Produtores Rurais de São Paulo. Pernambucano, viveu na zona rural nordestina até vir para a capital paulista, em 1973. E nunca imaginou que ia trabalhar com horta na cidade.
— Do meu dia a dia da vida, eu vim trabalhar de empregado. Trabalhei 18 anos na fábrica de papel, depois mais 18 anos no mercado barateiro. Aí eu aposentei, só que antes de aposentar, onde eu morava, eu tinha uma hortinha, eu comecei cultivar, plantando manga, banana — comenta Faria.
Com apoio da prefeitura, o agricultor começou a limpeza e plantio das hortas.
— Quando eu cheguei aqui, só tinha entulho, só tinha droga, estupro, mataram mulher aqui dentro. Eu cheguei e falei pros vizinhos: olha, vou cuidar dessa área. Perguntaram: É você sozinho? Eu falei: nós. A gente tem sempre que colocar a palavra “nós”, porque sozinho eu não sou ninguém. Eu só sou alguma coisa quando estou junto do outro — afirma.
Foi com o esforço comunitário que bananeiras, maracujás, ervas e hortaliças passaram a ser cultivadas de forma totalmente orgânica. Logo os 50 pés de alface de Faria se multiplicaram e hoje são quatro mil. Para afastar pragas, receitas naturais orientadas pelo engenheiro agrônomo Cristiano Mendes auxiliam no trabalho.
— A gente cede áreas da prefeitura, que viram áreas produtivas — diz o engenheiro agrônomo.
Ganha o agricultor e ganha a cidade. Com o plantio das frutas e hortaliças o solo é enriquecido e com a agricultura no meio urbano, Faria acaba ajudando a cidade a viver melhor.
— Na verdade a gente presta um serviço para a população. Para que gere um ar mais limpo para população, uma água mais potável. São vários benefícios — avalia o produtor.