Milho transgênico tolerante à seca é novidade nos Estados Unidos

Pesquisas com transgênicos estão avançadas e laboratórios de biotecnologia preparam novidadesNos Estados Unidos a cultura do milho é tão ou mais importante do que a soja. Além de exportar o milho, os americanos também utilizam boa parte da produção para fabricar etanol. As pesquisas com transgênicos nesta área estão avançadas e laboratórios de biotecnologia preparam as últimas novidades, como o milho tolerante a seca. Algumas destas tecnologias começam a chegar ao Brasil.

Sant Louis, poderia ser mais uma entre tantas cidades americanas, as margens do Rio Mississipi, mas ela esconde um tesouro agrícola em um conjunto de prédios. As estufas no topo do edifício fazem parte de um complexo de laboratórios responsável por muitas das grandes descobertas da biotecnologia.

Tudo começa pela retirada do DNA das plantas, o conjunto de informações genéticas que vai indicar as possibilidades da ciência. Assim se descobre qual o gene que possui as características desejadas como mais produtividade, tolerância a herbicidas, resistência a insetos. O gene diferente é inserido na planta e o transgênico começa a ser testado.

Câmaras simulam diferentes condições climáticas. Leva tempo até que as plantas até estejam prontas para os testes no campo. Nas estufas foram desenvolvidas as primeiras plantas transgênicas, em 1979, uma petúnia, depois veio a soja. O que está sendo produzido hoje deve chegar ao Brasil somente em 2023.

? É um longo processo porque estamos colocando algo da natureza dentro de outra planta. É necessário testar isso em diferentes condições de água, de temperatura. Precisamos ter certeza de que o transgênico é seguro para que seja levado as autoridades regulatórias e assim dar segurança ao consumidor ? diz Gary Barton, funcionário aposentado da Monsanto, que acompanha os grupos que visitam os laboratórios.

Também em Sant Louis ocorre o melhoramento genético. Computadores avaliam milhares de sementes, mostram o teor de óleo, de amido, e assim identificam os melhores grãos que depois serão multiplicados no campo.

Em uma das fazendas experimentais da Monsanto, que fica na cidade Monmouth, pode-se perceber a diferença entre a realidade brasileira e a norte-americana. No milho por exemplo, desde 2008 o Brasil tem o BT que contém um gene resistente a insetos. Este ano a Monsanto lançou o VT Pro2, uma segunda geração de transgênicos, com dois genes combinados, controle da lagarta e tolerância a herbicida.

Em setembro a CTN-bio aprovou mais um milho o Yeldgard VT Pro, que soma três genes para inseticidas e herbicidas, atacando pragas aéreas e também de raiz. Mas este produto ainda não tem data para ser lançado comercialmente.

Os Estados Unidos já passaram por todas etapas e chegam ao ultimo lançamento apresentado na Farm Progress Show. É um milho que não tem apenas dois, mas um total de oito genes combinados, o chamado smartstax é capaz de oferecer sete tratamentos diferentes.

O gerente técnico, Troy Coziahr, mostra o exemplo de cada tecnologia nas raízes, as ultimas gerações conseguem reduzir a ocorrência de pragas. O mesmo ocorre na espiga, as perdas quase desaparecem.

Outra novidade lançada este ano no mercado americano é o chamado RIB, sigla que pode ser traduzida como refúgio na saca. Como já acontece no Brasil, lavouras de transgênicos com tolerância a inseto, precisam manter um percentual de sementes convencionais, o que se chama de refugio. Agora a empresa vende a semente transgênica já adicionada com 5% de convencional, no mesmo saco, e assim tem a garantia de que a prática do refugio vai ser cumprida.

Troy diz que a mistura na saca faz com que o refugio produza o mesmo resultado.

? A Monsanto levou muitos anos avaliando este percentual de mistura, e hoje sabemos que é um efeito praticamente igual ao que seria alcançado se 20% da lavoura estivessem reservados pra semente convencional ? conta.

Mas a principal novidade é o milho tolerante a seca, que vai ser lançado em 2013 nos Estados Unidos. Ele é capaz de aumentar em 10% a produtividade, mesmo em condições de baixa umidade no solo. A empresa admite que normalmente são necessários pelo menos cinco anos entre o lançamento nos Estados Unidos e a comercialização no Brasil. A idéia é tentar reduzir este intervalo.

? Somente quando forem feitos os testes de campo nas lavouras brasileiras, será possível saber quando a tecnologia chegará ao país. Alem disso tem o processo regulatório. Já aprovamos a combinação dos tratamentos, hoje oferecemos no Brasil o controle da lagarta e a tolerância ao glifosato. Os outros genes, como este para a seca e para o aumento de produtividade, também tem boa chance de agregar muito valor as lavouras no Brasil ? afirma o cientista chefe da Monsanto, Dr Robb Fraley.

Outra pesquisa ainda em fase inicial nos Estados Unidos pode beneficiar no futuro os agricultores do Cerrado. É o milho que permite o uso mais eficiente do nitrogênio, um importante nutriente da cultura, o que pode melhorar a produção e reduzir custos.

Anthony Osborne, líder da Monsanto na área de milho, também evita fazer previsões sobre a chegada ao Brasil.

? Estes genes são promessas nos laboratórios. O desafio é levar para as propriedades rurais. Vai demandar testes de campo e parcerias com entidades brasileiras, mas se a gente conseguir aumentar a produtividade e tiver mais eficiência na utilização do nitrogênio, será de grande valor para os produtores ? ressalta.

Esta reportagem é parte de série especial produzida pelo Canal Rural. Saiba mais no site!