O setor produtivo e o governo vão criar um plano para estimular o mercado brasileiro de feijão e pulses, categoria que inclui leguminosas como lentilha, ervilha e grão-de-bico. O objetivo é diminuir a volatilidade dos preços do feijão e incentivar o consumo e a produção desses outros grãos.
O Brasil continua sendo um dos maiores produtores de feijão do mundo, com 3,3 milhões de toneladas, obtidas em três safras por ano. No entanto, o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que tanto o cultivo, como as vendas do alimento no país, despencaram em algumas regiões do país. O estudo mostra que nos últimos 20 anos o consumo anual do grão caiu de 25 quilos para 16 quilos por pessoa.
De acordo com o secretário do Conselho Brasileiro de Feijão e Pulses, Egon Schaden Júnior, pesquisas de órgãos oficiais e da iniciativa privada têm mostrado que parte da população tem consumido menos arroz e feijão. “Existe um desinteresse na adolescência e na juventude, que acabam sendo seduzidas pelo fast food e pelas comidas prontas”, diz.
O presidente da Câmara Setorial de Feijão, Roberto Queiroga, afirma que o setor já está em fase final de entendimentos com áreas do Ministério da Agricultura para elaboração do plano nacional para feijão e pulses. A expectativa era a de lançar o programa ainda em abril, mas a necessidade de fazer alguns ajustes jogou a estreia para maio.
Segundo Queiroga, a cadeia tenta ganhar força política para que as propostas de incentivo à produção e consumo resistam à troca de governo. “A gente vai fazer uma governança da cadeia e se organizar internamente para que, independentemente do governo que vier em 2019, a gente tenha realmente a certeza que esse plano não vai ficar no papel”, afirma.
Exportação
Enquanto isso, o setor produtivo vive a expectativa da conclusão do plano, principalmente os produtores de grão-de-bico, lentilha e ervilha. Thiago Estefanelo Nogueira, presidente do Conselho Brasileiro de Feijão e Pulses, afirma que o Brasil é importador de alguns desses grãos, mas poderia produzir para exportação, já que dispõe de grande área agricultável e detém tecnologia de irrigação.
“Com esse plano, vamos mostrar para toda a sociedade a importância dos pulses, também na parte de nutrientes”, diz Nogueira.
Roberto Queiroga reitera que há potencial no mercado internacional para pulses e alguns tipos de feijão. “Hoje não conseguimos alcançar espaço em função de algumas barreiras regulatórias ou de falta de entendimento das próprias áreas de governo competentes. A gente está incorporando a análise desses gargalos dentro do plano e propondo soluções”, diz.
Além do consumo em queda, o produtor convive com baixos preços. A saca de 60 quilos do feijão-carioca, por exemplo, vendida há dois anos por R$ 400, neste ano não deve sair dos armazéns por mais do que R$ 100.
Quando colocado em prática, o plano pode resolver também o problema da volatilidade das cotações. Uma das metas da Câmara Setorial do Feijão é que o grão brasileiro ganhe mais espaço no mercado internacional. Atualmente, a maior dificuldade da cadeia é que o feijão não é uma commodity, afirma Queiroga. “Ele sempre vai estar ao sabor da sazonalidade dos preços, diferentemente da soja e do milho, para os quais chicago define os preços e assim todos os fatores da cadeia se organizam em função de um preço apontado pelo mercado internacional”.
O presidente da Câmara Setorial afirma que o feijão merece ser considerado pelo governo como um produto de extrema importância, muito presente na mesa do brasileiro. “A gente não pode viver num ano em que o feijão está a R$ 60, R$ 70 a saca e no outro ano, a R$ 400. isso não é bom para o produtor, não é bom para o consumidor, não é bom para ninguém”, diz.