O uso do biometano já é uma realidade no agronegócio brasileiro e deve ganhar cada vez mais espaço. A produção nacional do gás chega a 250 mil metros cúbicos por dia, mas o volume deve dobrar até o fim de 2019. De olho nesse filão, empresas como a fabricante de máquinas agrícolas New Holland investem em produtos movidos a esse combustível que pode ser gerado a partir de resíduos na propriedade rural.
A empresa está confiante no crescimento desse mercado e está investindo num protótipo movido a biometano. O trator deve ser produzido em escala comercial dentro de três anos, e promete economia de até 30% nos custos, em relação a um modelo movido a diesel. A News Holland garante ainda que o modelo tem a mesma durabilidade e necessita de serviços nos mesmos intervalos que as máquinas convencionais.
De acordo com a fabricante, o novo trator produz, pelo menos, 10% menos de emissões de CO2 e reduz o total de emissões em 80% em comparação com um motor padrão a diesel. O desempenho ambiental, diz a New Holland, melhora ainda mais se o trator for alimentado por biometano produzido a partir de restos de colheitas e resíduos de culturas energéticas de origem agrícola.
O vice-presidente da New Holland para a América Latina, Rafael Miotto, afirma que a empresa vem participando ativamente de todas as câmaras e setores que estão discutindo o biogás. “É muito importante que toda essa cadeia seja facilmente viabilizada para o produtor rural. A gente acredita que através de desburocratização, linhas de financiamento e regulamentação rápida e simples vai ser bastante facilitado o processo”, diz.
Biometano
A grande vantagem da utilização do biometano é transformar um passivo ambiental em um ativo energético, afirma o conselheiro da Associação Brasileira de Biogás e Biometano, Gabriel Kropsch. “Aquele resíduo da produção que você teria que dar destinação correta, e eventualmente até gastar dinheiro para essa destinação, estaria sendo aproveitado na própria propriedade”, diz.
A associação estima que o Brasil tenha hoje um potencial de produção de biometano na ordem de 80 milhões de metros cúbicos por dia. Isso equivale a quase metade do consumo de óleo diesel no país. Cerca de 20% da matéria-prima utilizada no processo produtivo do biometano tem origem em atividades agropecuárias.
O produtor rural Jan Haasjls, de Castro (PR), investiu em um biodigestor há 15 anos para se tornar autossuficiente em energia. Em sua propriedade, ele produz grãos e administra uma granja de suínos com 900 matrizes.
O projeto custou cerca de R$ 3,5 milhões. A estrutura produz hoje 1.500 metros cúbicos de biogás com a utilização de matéria orgânica em decomposição – resíduos das lavouras e da granja de suínos. O biodigestor também fabrica 50 metros cúbicos de biometano por dia, obtido através do sistema de purificação do biogás.
“Nós estamos em busca da sustentabilidade, queremos saber como produzir alimentos comprando menos energia, elétrica e em forma de diesel, e comprando menos fertilizantes químicos”, afirma Haasjls.
O agricultor acredita que a fabricação do biogás em propriedades agrícolas poderia ser ampliada. Mas diz que a legislação brasileira é rigorosa quando se trata de produção e distribuição do combustível. Ele afirma que hoje teria que vender a energia elétrica produzida a partir do biogás para uma concessionária e recomprar a um preço maior.
“Eu estou conectado a uma cooperativa de eletrificação, mas acreditamos que este ano vai mudar a legislação e ela vai ser obrigada a se tornar uma concessionária/permissionária. Se isso acontecer, será permitido a nós produtores injetar a enrgia na rede e compensar em outro ponto de consumo”, diz Haasjls.