Acordar todos os dias às 6h30 da manhã, para às 7h começar o trabalho. Percorrer a propriedade de 30 hectares – três deles ocupados com mata nativa – para conferir os tanques de engorda de peixes, dar uma olhada no gado, monitorar a criação de suínos mantida em sistema orgânico e cuidar da produção de frutas e de hortaliças, também conduzida sem o uso de agroquímicos. Parar mesmo, só para almoçar, e voltar para casa perto das 18 horas – isso se não houver algum imprevisto, como uma porca que necessita de ajuda para parir.
Essa é a rotina de Evandro Aparecido Lolis Arroyo, 48 anos, que há três anos investe em manejo sustentável e quase totalmente orgânico em uma fazenda em Santa Fé (PR), cidade próxima a Maringá com pouco mais de 11 mil habitantes. O que não falta na fazenda é trabalho, mas Evandro dá conta do recado com a ajuda de quatro colaboradores – que é como gosta de chamar seus funcionários – e de muito entusiasmo.
Após 24 anos atuando na área comercial e empresarial, onde diz ter sofrido muitas decepções, ele conseguiu ter dinheiro suficiente para a compra de suas primeiras terras. Hoje, seis anos mais tarde e já em uma nova propriedade, ele não disfarça a satisfação de ter mudado de vida. “Trabalho numa atividade que, apesar de exigir bastante, é muito mais saudável. O contato com o campo, com os animais que criamos e a natureza, tudo isso é mais saudável, física e mentalmente”, diz.
“Trabalho numa atividade que, apesar de exigir bastante, é muito mais saudável”
A família de Evandro produzia café em Santa Fé até os anos 1970, quando trocou a lavoura pela vida no centro da cidade. “Mas eu sempre fui apaixonado pelo agro. Quando houve oportunidade de adquirir terras, resolvi deixar toda as atividades urbanas. Hoje tenho agricultura e agropecuária”, diz.
Um dos motivos de seu sucesso como produtor, inclusive, é a diversificação de atividades. As principais fontes de renda são a produção de lichia e maracujás orgânicos e a pecuária de corte. A iniciativa de não usar agroquímicos, além de ser uma ação sustentável, segundo Evandro, é também um meio de gerar mais lucro.
“Eu vendo a lichia e o maracujá pelo dobro do preço do mercado, mas a receita maior é com o gado, 5% mais valorizado que o preço atual, por não usar suplementação e medicamentos industrializados”, ressalta. Atualmente, ele está desenvolvendo um projeto com a Secretaria de Agricultura do município para montar um abatedouro na propriedade.
Evandro se formou como técnico em agropecuária, e conta que está sempre em busca de atualizações na área, através de canais de TV e de internet, e também buscando informações em órgãos de pesquisa. “A Embrapa é uma grande instituição, que nos dá muito respaldo, assim como a Emater. Elas lançam ideias para desenvolver as atividades dentro de uma propriedade pequena e ter uma lucratividade maior”, afirma.
“Minha maior conquista dentro da atividade foi a de poder fazer uma propriedade modelo, é um sonho realizado. Somos procurados por pessoas interessadas, somos uma referência”, diz com orgulho.
O setor de orgânicos cresceu 20% no Brasil em 2016, movimentando cerca de R$ 3 bilhões, segundo o Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável (Organis). “Mas falta investimento”, acredita Evandro, que cobra mais incentivo do poder público para divulgar e estimular no país a produção agropecuária sem uso de aditivos e agroquímicos.