Produtores de alho enfrentam dificuldades na comercialização do produto. Preços baixos e aumento da área plantada em países produtores têm feito o setor viver uma das piores crises dos últimos anos.
Agricultor no Rio Grande do Sul, o terceiro estado que mais produz alho no Brasil, Leandro Molon se orgulha da colheita nos últimos dias, mas fica desanimado quando o assunto é a comercialização.
“O preço não tá colaborando, e o mercado tá travado. Muita importação da China, da Argentina, e a gente fica com o nosso produto parado. Hoje, o preço que vamos vende esse alho é abaixo de custo”, reclama o produtor.
Olir Schiavenin, vice-presidente da Anapa (Associação Nacional dos Produtores de Alho), acredita que o crescimento da área em outros países produtores é um dos motivos da crise. A Argentina registrou um aumento de área plantada de 50%, e a China, de 15%. O aumento na oferta internacional tira competitividade do produto brasileiro.
“Dumping é você vender num terceiro país a preço menor do que você pratica no país de origem. É isso que tá acontecendo com a China. Eles vendem mais barato aqui do que comercializam lá porque o governo subsidia. Se o governo deles subsidia, o nosso governo tem de compensar isso sob pena de quebrar a produção nacional”, diz Schiavenin.
O Brasil compra de outros países metade do alho que consome. A caixa de alho importado chega aqui valendo R$ 55. O comerciante local, que separa, embala e vende o produto às redes de supermercado, está cobrando um pouco menos para tentar ganhar mais. “E o produtor recebe bem menos porque tem todo o custo da caixa, mão de obra, o frete, o seguro o risco, enfim”, afirma o vice-presidente da Anapa.
Um galpão na cidade gaúcha de Flores da Cunha dá uma ideia da dimensão do problema. Nele há 40 toneladas de alho que ainda não foram vendidas. No ano passado, nesta mesma época, todo o produto já estava no supermercado.
“No ano passado, nós já estávamos ganhando R$ 10 por quilo, R$ 100 reais a caixa. Isso passa um alho calibre 6 ou 7. Agora, sai por cerca de R$ 40 a caixa. É em torno disso que o produtor vai ganhar por um alho bom”, lamenta o produtor Molon.
Nesta semana, centenas de agricultores de Santa Catarina fizeram um tratoraço na rodovia SC-120, para pedir maior valorização do produto nacional. Eles também querem renegociar as dívidas com os bancos, já que estão descapitalizados por causa da comercialização lenta do produto.
“Praticamente todas as semanas tem uma reunião no Ministério da Agricultura ou na Fazenda, na Receita Federal, no Ministério das Relações Exteriores, para a gente levar essas nossas demandas e preocupações. Para fazer com que a produção de alho não desapareça no Brasil”, diz Schiavenin.