Para o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, o tabelamento de fretes proposto pelo governo federal para contornar a crise dos caminhoneiros está afetando o transporte de grãos. Mesmo fazendo parte do governo, Maggi deixou clara sua posição em relação à medida em entrevista ao programa Direto ao Ponto, levado ao ar neste domingo, dia 1º. Segundo o ministro, o tabelamento está inviabilizando a economia, provocando a interrupção do transporte de grãos pelo país.
“Os problemas que vemos hoje na agricultura e na pecuária é que os negócios futuros ou atuais não estão andando. O que está sendo transportado é aquela mercadoria que já foi comprada e que tinha um frete embutido. De lá pra cá, você como produtor não tem preço para vender a soja, o milho ou o algodão, porque não sabemos o preço do frete.”
De acordo com ele, a informação veio de um estudo realizado pela Câmara Temática de Infra-Estrutura e Logística do Agronegócio do ministério e que foi enviado ao Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, em ocasião das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) das quais Fux é o relator.
Na entrevista, Maggi também falou sobre as dificuldades enfrentadas pelas exportações brasileiras. Além da desconfiança gerada pelo mercado internacional pelo crescimento das remessas do país e por questões relacionadas às operações policiais em frigoríficos, haveria também uma pressão pela modernização da legislação sanitária do Brasil. Segundo o ministro, compradores estrangeiros reclamam, por exemplo, da falta de equivalência legislativa na hora de vender a carne.
“Praticamente, o que tem que ser é o seguinte: todo mundo tem que fazer as coisas iguais. O Brasil ainda não conseguiu avançar a esse ponto. Faltam fiscais, a gente tem que modernizar a nossa legislação, retirar a presença do homem em determinada parte da fiscalização, deixar que essa fiscalização seja mais contínua por um único fiscal e no final os sistemas atestem aquela mercadoria como uma boa mercadoria”, diz Maggi.
O ministro afirma que ainda há muitos desafios nessa seara. Ele lembra que foram contratados 300 veterinários para atuar no sistema, mas o quantitativo de profissionais é insuficiente. “Se você parar para olhar, esses novos não substituem todos que se aposentaram. É um ‘tapa-buraco’.” Segundo Maggi, o problema orçamentário do país é o que impede a contratação de gente e, como consequência, trava o potencial brasileiro no mercado exterior.
Embargos
Hoje, o Brasil enfrenta vários embates na exportação. “Os efeitos da carne fraca não passaram e a cada dia temos uma surpresa sobre isso. A Europa nos retirou de um mercado, a Rússia nos retirou de outro. Nós temos problemas com dumping com a China. Essa desconfiança é ruim. Tenho brincado com o meu pessoal: a cada dia é uma vela que a gente tem que acender aqui é um fogo que tem que apagar ali”, afirma.
Maggi esteve recentemente na África do Sul e conversou com os russos sobre o embargo da carne suína e bovina. De acordo com o ministro, a Rússia não compra carne suína que contenha o promotor de crescimento ractopamina, que tem uso permitido no Brasil. Com isso, os frigoríficos nacionais trabalham de forma segregada, com linhas de produção diferentes. Mas, no ano passado, foi detectada a substância na carne exportada para o mercado russo. “Os nosso produtores não conseguiram dar 100% daquele protocolo estabelecido com a Rússia”, diz.
Já em relação à Europa, Maggi afirma que o problema foi comercial. Segundo ele, o Brasil vende dois tipos de carne de frango ao mercado europeu 16 mil toneladas de aves in natura e 160 mil toneladas de produtos com sal. Nesse último tipo de carne, não se pode encontrar nenhum tipo de salmonela. “Mas se eu pegar essa de quantidade maior e pagar uma taxa de 1.024 euros para entrar na Europa, eles deixam de observar a salmonela. Ou seja, não é sanitário; se fosse, não teria preço”, observa.
Segundo o ministro, após visita da comissão técnica europeia e emissão do relatório com observações sobre o sistema, o Brasil vai tentar se readequar para a reabertura de mercados. No entanto, a consequência desse processo é a queda brusca de preços da carne no mercado interno. “Frango fica barato porque não tem para onde mandar toda essa produção, que derruba o suíno, que derruba o bovino”, afirma.
O exemplo disso é o volume de cerca de 15% da produção da BRF que não pôde ser exportada e teve que ficar no país. A superoferta derrubou os preços e tem afetado diretamente a renda do produtor integrado. Foi feito um acordo com a empresa, que vai arcar com as prestações dos galpões e a lucratividade.
Defensivos
Maggi também comentou o projeto de lei que pretende modernizar a lei dos defensivos agrícolas. O primeiro texto, inclusive, foi proposto pelo próprio Maggi no Senado, em 2002 . “Chegamos a 2018 e não conseguimos avançar. Todo mundo acha que o Brasil é um grande consumidor de agrotóxico, mas a grande maioria desconhece o que acontece”, diz.
“Quando a gente exporta manga, por exemplo, ela precisa passar por um choque térmico. Água fria, água gelada. Esse volume ali colocado entra como agrotóxico. Todo óleo aspergente também. Na verdade, o Brasil usa um volume muito baixo, mas a definição de agrotóxico está sendo mudada nessa legislação”, afirma.
De acordo com o ministro, as moléculas usadas nos produtos evoluem, assim como o mundo, e com uma legislação burocrática e cheia de entraves, o Brasil não vai conseguir acompanhar seus concorrentes.