Segundo Fábio Venturalli, presidente do grupo São Martinho, a companhia será a primeira do ramo a transformar o carbono renovável da cana-de-açúcar em produtos, que antes utilizavam como base o petróleo.
? Nós vamos colocar o carbono renovável num novo contexto ? afirmou.
A tecnologia para a produção desse carbono renovável tem sido desenvolvida pela Amyris e pela sua subsidiária brasileira, a Amyris Pesquisa e Desenvolvimento de Biocombustíveis, que opera no país desde março de 2008, e se baseia na manipulação do levedo utilizado na fermentação da cana.
A fermentação faz parte do processo normal de produção do álcool ? a diferença, aponta John Melo, presidente da Amyris, é que a manipulação biológica feita pela empresa sobre esse levedo permite que o produto resultante desta fermentação, em vez do álcool, seja um composto carbônico chamado farmese, que atualmente é obtido por meio de processo químico sobre o petróleo. Esse composto, aponta, é a base utilizada pela indústria para a produção de vários produtos cosméticos, lubrificantes, diesel e até gasolina para aviação.
Para Melo, o grande trunfo da tecnologia é a utilização do processo biológico para substituir o processo químico.
? A Amyris é a única do mundo a fazer isso ? ressalta.
Segundo ele a escolha da Usina Boa Vista se deve ao fato de ser a única atualmente com base agrícola e tecnológica suficientes para receber a unidade química necessária para a aplicação da tecnologia e a produção em larga escala.
Segundo Melo, a produção de compostos químicos abrirá novos mercados para a usina, mas não significa que ela deixará de produzir etanol.
? A Boa Vista produzirá o que der mais retorno para seus acionistas, seja álcool, seja químicos ? afirmou.
Segundo Venturalli, a produção destinada a químicos na usina será limitada a 2 milhões de toneladas. Levando-se em conta a produção estimada de 3,4 milhões de toneladas projetada para a próxima safra, a produção de químicos pode chegar a 58,8% da produção total.
A produção na Boa Vista alcançará alta escala a partir de 2012, e deve se situar em torno de 50 litros por tonelada de cana, apontam as empresas. Apesar de uma rentabilidade menor que a do etanol, 85 litros por tonelada, o preço estimado para o produto pelas companhias é de seis a sete vezes o do etanol.
? A proposta é aumentar o valor agregado da cana, além de disponibilizar ao mercado um produto que atenda aos padrões de sustentabilidade, e que seja uma alternativa real ao petróleo ? disse Venturalli.