Mais de 90% da área agricultável dos Estados Unidos conta com seguro rural. De acordo com o professor de economia da Universidade de Brasília (Unb), Jorge Nogueira, o incentivo do governo norte-americano dado às empresas para compensar riscos desconhecidos foi o que popularizou essa prática por lá. “A experiência internacional exigiu um prazo muito longo, de algumas décadas, para quebrar a desconfiança do produtor e da companhia”, explica.
Nogueira diz que as empresas brasileiras ainda não conhecem os riscos. O docente realiza um trabalho acadêmico que compara as condições do seguro rural entre EUA e Brasil, e nele a discrepância resultante dessas realidades fica clara: apenas 12% da área plantada na safra brasileira 2016/2017 foi coberta, segundo dados do Ministério da Agricultura.
Medo e desconfiança
Em 2013, o produtor Ademir Cenci, de Brasília (DF), precisou recorrer ao prêmio do seguro, por conta de perdas de produção, mas acabou no prejuízo mesmo assim, porque a modalidade contratada cobria apenas o valor financiado para custeio. “O sinistro vai garantir ao banco o valor que ele me emprestou. Não vai me indenizar os recursos, esforço e tempo que coloquei na terra. É um produto que garante muito mais a sobrevivência do banco do que a do produtor”, lamenta.
Na contramão, o agricultor Kenneth Lunt, de Iowa (EUA), sempre aderiu ao seguro com apoio do governo. Ele escolhe o nível desejado e a União faz o subsídio de uma parcela. “Na minha opinião, é melhor do que me dar o dinheiro”, explica.
No Brasil, por meio do Mapa, foram oferecidos R$ 400 milhões para prêmios de seguro rural no último plano safra, mas seria necessário mais de R$ 1 bilhão para atender todos os agricultores nacionais. Mas, com as contas públicas em colapso, o recurso é contingenciado todos os anos. A Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg) acredita que o crescimento das contratações de apólices no Brasil precisa do auxílio da iniciativa privada. “Talvez essas demandas possam ser atendidas por outras instituições financeiras, como cooperativas e revendas, que estimulam os seus clientes a fazer o seguro, facilitando a aquisição”, defende o vice-presidente da Comissão Nacional da entidade, Joaquim César.
Como resultado da política de subvenção, os Estados Unidos têm pelo menos 17 empresas que oferecem seguro rural. Essa concorrência gera modalidades mais atraentes ao produtor. “Procuro um agente de seguro de lavoura, com o histórico da família, e aí existem muitas escolhas: posso ter de 25% a 85% de cobertura; pode ser completa para receita ou só para os bushels de produção, por exemplo”, exemplifica o fazendeiro norte-americano.
Já no Brasil, culturas com grande risco de quebra, como o feijão, sequer contam com opções de apólice.
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Conscientização
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tem uma proposta para aproximar o produtor do seguro: utilizar informações das propriedades que adotam agricultura de precisão para que seguradoras possam estudar mais a fundo como funciona essa propriedade. “E aí sim ter condições de criar um serviço customizado para o agropecuarista”, defende a assessora técnica da Comissão Nacional de Política Agrícola da instituição, Fernanda Schwantes. Ela afirma que a CNA levou a demanda para a Fenseg e estão estudando como viabilizar um produto dessa natureza.
*O repórter viajou a convite da Corteva