É uma situação atípica para o setor. A redução de oferta por causa da entressafra até era esperada como todo ano nesta época, mas não tanto como está ocorrendo. O motivo foi um fator climático. Choveu demais nos últimos meses e ainda está sobrando muita cana para ser moída nas usinas. São pelo menos 40 milhões de toneladas com excesso de umidade no campo. Além disso, mais gente passou a abastecer os veículos com etanol.
? A demanda está extremamente forte. Quer dizer: o consumidor de carro de álcool havia optado realmente pelo etanol. Então, você tinha um aumento crescente desta frota e um aumento crescente da utilização do etanol. Como os preços durante o período de moagem estavam muito baixos, a demanda foi extremamente alta ? avalia o analista de mercado Tarcilo Rodrigues.
Um levantamento do Centro de Pesquisas em Economia da Universidade de São Paulo (Cepea) mostra que do inicio de novembro até o dia 30 do mês passado, o preço do etanol nas usinas subiu mais de 16%. O aumento de preço chegou à cidade. Nas bombas, o litro já está perto de R$ 2 até em regiões como em São Paulo, onde a diferença para gasolina era considerável e compensadora para o consumidor. Muita gente ainda não se deu conta de que não é mais.
? Eu não tenho feito esta pesquisa não, mas pra mim, pelo valor do combustível, da gasolina eu opto mesmo pelo álcool ? comenta o entregador de gás Nascimento Silva de Jesus.
Joaquim Manoel da Silva, gerente de um posto em São Paulo, diz que o que acontece é que a população se acostumou mal.
? O preço que está o etanol não compensa tanto. Eu acho que a gasolina é bem melhor, mas as pessoas continuam não colocando gasolina ? afirma Joaquim.
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Antonio de Pádua, um dos diretores da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), diz que a distração do consumidor não é boa para ninguém.
? Nós precisamos de um processo de maior equilíbrio, de uma demanda mais regularizada e não com tanta volatilidade como nós estamos vivendo este ano em função de uma forte frustração da produção de cana-de-açúcar e de etanol ? explica o diretor técnico.
Pelo último levantamento da Agencia Nacional de Petróleo, só em sete Estados ainda é mais vantajoso abastecer com etanol e não com gasolina. Mas não é só a escassez do produto por causa da entressafra que interfere no preço na bomba. O que se paga de imposto na hora de abastecer também pesa na conta.
Em uma simples comparação entre dois Estados com tributação diferentes, já dá para entender. Em SP, por exemplo, a taxa de ICMS é de 12%. De imposto, o motorista paga pelo menos R$ 0,20 em um litro de etanol. Em SC, o ICMS chega a 25%. Para o etanol a R$ 2, R$ 0,50 em cada litro vão para o governo.
A tributação, a margem das distribuidoras, a variação de preços dos postos é que determinam no fim das contas o quanto o consumidor vai pagar. Em SP, em alguns lugares ainda é vantagem usar etanol, em outros não. E vai ser cada vez menos, até que chegue a próxima safra.
? A partir de 15 de março quando se inicia a nova safra o mercado voltará a ficar ofertado e tudo deverá voltar à normalidade e o álcool sendo vantajoso em quase todo o território nacional novamente ? tranquiliza Antonio de Pádua.
