Brasil contabiliza estoque de quase 11 milhões de toneladas de milho

Em São Paulo, produtores guardaram o produto durante quase todo o ano de 2009 esperando uma recuperação de preços, o que não ocorreuFaltando apenas dois meses para a colheita da safra de verão, o Brasil ainda contabiliza um estoque de quase 11 milhões de toneladas de milho. Nas últimas seis safras, a média de estoque de passagem era de pouco mais de seis milhões de toneladas. Em São Paulo, produtores guardaram o produto durante quase todo o ano de 2009 esperando uma recuperação de preços, o que não ocorreu.

Investimento na lavoura, irrigação e máquinas modernas foram os fatores que garantiram ao produtor rural Luiz Antônio Jovelli uma boa produtividade na última safra de milho. Só que, mesmo assim, o agricultor de Arandu, interior paulista, fala que não tem motivos para comemorar.

? Os preços estavam muito baixos e os custos muito altos, então foi um ano em que agente teve prejuízo com a lavoura, mesmo colhendo boa produção ? disse Jovelli.

Cerca de 20% do milho que ele colheu há mais de dez meses ainda não foi vendido.

? Eu não conseguia vender os lotes que tinha disponível pra venda, tive que ir vendendo parcelado e até agora o final do ano ainda não consegui terminar de fazer as vendas que eu tinha do lote da lavoura ? explicou o agricultor.

Na esperança de obter preços melhores, muitos produtores rurais optaram por guardar o milho em estoque. O resultado é uma montanha de produto aguardando comercialização. Na unidade de armazenagem da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) em Avaré, interior do Estado, e boa parte do que está estocado aqui está nesta situação: esperando preços melhores.

São 17 mil toneladas paradas nesta unidade. Os funcionários do local contam que a média para o período não passa de oito mil toneladas. O milho de Luiz Antônio Jovelli está lá.

No caso do administrador de fazenda Antônio Edson Leite, a produção, que também estava guardada desde março, só saiu do galpão da Ceagesp no mês passado. Ele conta que vender não significou ganhar dinheiro. A saca foi comercializada a R$ 19 e o custo de produção era de R$ 18.

? Na verdade, não remunera porque a gente teve um custo de armazenagem desde março até dezembro e, se tudo isto for contabilizar tudo isso, dinheiro, investimento parado, esse ano o milho não foi bom investimento não ? disse o empresário rural.

Por causa disso, os dois produtores perderam o interesse pelo milho. Antônio foi mais radical. Não plantou milho nesta safra. Trocou tudo pela soja. A situação se repete em todo o país. De acordo com a Conab, a área de milho deve ser quase 11% menor nesta primeira safra. O motivo foi o estoque alto e preços abaixo do esperado pelos produtores.

A má notícia é que, segundo analistas de mercado, o cenário de preços não deve mudar este ano.

? Se não houver nenhum componente internacional que mude este panorama, como uma quebra da Europa ou qualquer outra coisa que incentive um consumo muito grande. Então nós teremos um 2010 muito parecido numericamente com o que nós tivemos em 2009, nessas condições eu acredito que os preços também deverão seguir a mesma tendência que tivemos em 2009, não devemos ter grandes variações de preço ? concluiu o analista de mercado Sebastião Gulla.